quinta-feira, 3 de maio de 2007

A Vida Universitária

À conversa com…

Entrevistámos três estudantes universitários com diferentes experiências e pontos de vista, acerca da sua vida académica.
André Gonçalves, 21 anos, e João Fernandes, 20 anos, frequentam o mesmo estabelecimento de ensino, Faculdade de Direito de Lisboa. Enquanto que, Telma Guerreiro, 19 anos, está no 1º ano da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

A inscrição foi difícil? A média exigida foi difícil de obter?

André Gonçalves – Não.
João Fernandes – A inscrição não foi difícil. Se me recordo, a média de entrada era de 12,8 valores. Na altura, estava indeciso entre frequentar a faculdade que agora frequento e o curso de Direito da Universidade Nova de Lisboa, sendo que a média da Nova era mais alta – 15,5 valores, se não estou em erro. De qualquer forma, também tinha média para entrar nas duas faculdades. Não senti grandes dificuldades em obter a minha média.
Telma Guerreiro – Não foi difícil entrar para o meu curso, mas não entrei para o que queria em primeiro lugar por 4 décimas.

Vives numa república com os teus colegas ou em casa?

A.G. – Presentemente vivo com o meu agregado familiar, mas em tempos estudei e residi em Coimbra. Habitava num alojamento de estudantes, perto da minha faculdade.
Dividia o quarto com um colega que não cheguei realmente a conhecer, porque raramente o via.
Levantava-me todos os dias às 10h da manhã e saía a correr, como sempre atrasado, para ir tomar o pequeno-almoço num café de esquina, regularmente frequentado por estudantes universitários. Entrava às 11h para as aulas e saía às 13h para duas horas de almoço. Recomeçava, depois, às 15h e saía às 20.30h. Daí seguia para o centro da cidade, por vezes acompanhado por colegas de turma, para ir jantar numa cantina universitária, de onde iríamos para o café da associação de estudantes, ponto de encontro de todos.
J.F. – Vivo em casa com os meus pais.
T.G. – Vivo em casa com os meus pais.

Como são as praxes na tua universidade?

A.G. – Grotescas. Não têm sentido, porque embora com o pretexto de integração social dos alunos, estas servem apenas para humilhá-los e expô-los ao ridículo e, porque nem todas as tradições são boas, acho que deveria acabar.
J.F. – As praxes na minha faculdade não são prolongadas ou ricas. Duram apenas um dia, o que muitas pessoas consideram não ser positivo.
T.G. – Na minha escola são cedidos três dias no início do ano só para praxes, sem aulas, para fomentar as ligações entre os caloiros e podermos conhecer os veteranos e as instalações. São muito giras, sem abusos de qualquer forma e qualquer pessoa se pode recusar a fazer algo, se assim o achar apropriado. Ao longo do ano, os caloiros podem ser praxados todas as quintas-feiras, que é o dia do estudante, até ao enterro do caloiro, em Maio.



Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito

Que diferenças encontras entre a faculdade e o ensino secundário? A tua adaptação foi difícil?

A.G. – O ensino secundário tem um baixo grau de exigência comparativamente ao ensino superior. Para muitos alunos a adaptação é difícil, e muitas vezes nem chega a ocorrer. Mas esse não foi o meu caso, devido à anterior experiência de Coimbra.
J.F. – As diferenças são, como suponho natural de prever, enormes. As diferenças mais óbvias prendem-se com a relação entre o docente e o aluno, e a necessidade de modificar o método de estudo que até então era comum no estudante, virando-o para uma vertente a que é dado à investigação científica um lugar de destaque. A carga de estudo mínima também aumenta exponencialmente. A minha adaptação foi mais difícil no segundo ano do que no primeiro, curiosamente, mas a regra é a de muitos sentirem dificuldades acrescidas no primeiro ano.
T.G. – As diferenças não são muitas, em termos de relação com os professores e com os colegas, pois as turmas são pequenas. A única diferença é que temos mais liberdade.

Em que é que se diferenciam os professores da universidade e do secundário?

A.G. – Os professores do ensino secundário não exigem tanto do aluno como os professores da universidade.
J.F. – Os professores universitários primam pela exigência e rigor académicos. Encorajam os alunos a realizarem um estudo para além dos manuais disponíveis (quando estes existem, é claro). Nas aulas teóricas, embora seja possível colocar dúvidas, não existe na minha faculdade essa tradição, pelo que o professor dá a aula simplesmente. Nas sub turmas, o ensino é muito virado para a realização de casos práticos – ou seja, para o estudo e aplicação da lei em casos concretos para se averiguar o Quid Júris (o que é do direito). Esta, penso, é uma das vantagens da minha faculdade em relação às outras com o mesmo curso – o ensino é muito mais prático, sendo que a esmagadora maioria dos testes consistem em casos práticos em que o aluno tem de aplicar a lei da melhor maneira possível de forma a resolver o problema.

O que pensas das festas? Costumas ir? Sem sim, quais?

A.G. – As festas universitárias servem para aqueles que têm o complexo da integração social, o conseguirem através de quatro ou cinco imperiais. As relações criadas nessas ditas festas são, muito frequentemente, de uma falsa aparência de amizade e servem não só para tentar atingir esse tal complexo, como também para desviar os estudantes do seu verdadeiro objectivo – estudar.
A diversão tem o seu lugar próprio, mas não deve adquirir um papel principal no ensino universitário. Constato isso todos os dias, ao ver supostos estudantes que vêm de localidades pequenas e que se deparam com uma cidade repleta de múltiplas ofertas, que os atraem e que os afastam dos estudos.
J.F. – As festas são indispensáveis para uma vida académica completa e minimamente saudável – principalmente no curso de Direito, onde o trabalho realizado no dia-a-dia é relativamente elevado.
Costumo ir às festas de Gala (fato e gravata), às festas da cerveja, do caloiro e também costumo ir ao arraial do Técnico.
T.G. – Sim. Vou às festas para os caloiros, jantares de turma e de associações, assim como a festas temáticas, como de Natal, etc.
Há, também, na minha faculdade uma festa especial – a festa do dia da escola, em Março, em que se faz um conjunto de actividades radicais que constituem um desafio, um percurso de escalada, tirolesa, rappel e canoagem, que dá prémios de viagens a quem ganha. Também se fazem mostras e feiras dos alunos de cozinha e simulação de empresas.

Achas que os custos são demasiado elevados?

A.G. – Não. Acho que as propinas ainda deveriam ser mais altas, porque as faculdades necessitam de ter um orçamento mais elevado para criar melhores condições de ensino para os alunos, condições essas que deveriam ser, muitas vezes, prosseguidas pela associação de estudantes, que em vez de aplicar as verbas disciplinares no melhoramento da qualidade de ensino, as aplica em festas descabidas como a da cerveja. No entanto, para aqueles que não têm condições para pagar os elevados custos necessários para uma boa educação, deveria ser-lhes proporcionado uma bolsa de estudo com base no rendimento do agregado familiar e no mérito.
J.F. – Considero que as propinas são elevadas. Penso que a melhor forma de promover um ensino académico de qualidade passa por um nivelamento das propinas por baixo, para permitir que mais pessoas possam concorrer ao ensino universitário, visto que não são raros os casos em que não há a possibilidade de frequentar um estabelecimento de ensino superior por falta de dinheiro, mesmo quando o aluno possui qualidade e média mais que suficiente para entrar.
T.G. – São elevados, mas fazem facilidades de pagamento. O sistema de bolsas de estudo facilita, mas é muito complicado reunir todas as condições para concorrer e o sistema é muito demorado.

Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa

Como é o sistema de avaliação?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os alunos, quando se inscrevem numa cadeira, podem escolher entre fazê-la em método A ou método B.
Em método A (também chamado de avaliação contínua) os alunos são inseridos numa turma, podem assistir às aulas teóricas, que são dadas pelo regente da cadeira, e são inscritos em sub turmas de aulas práticas, dadas pelos assistentes de cada cadeira. Os alunos inscritos em método A têm testes a cada cadeira regularmente. No final do ano, vão a exame final. Se, com a nota final que tiverem em avaliação contínua somada com a do exame, e dividida por dois, tiverem média igual ou superior a doze, ficam com a cadeira feita podem realizar orais de melhoria de nota, orais em que a nota nunca desce. Se a média final com a do exame dividida por dois der um resultado menor que doze, os alunos têm de ir a oral de passagem obrigatória. Se passarem, podem inscrever-se, na mesma, em oral de melhoria.
A método B os alunos apenas podem assistir às aulas teóricas, não estando inscritos nas sub turmas (podendo, no entanto, assistir a estas, embora não lhes seja dada qualquer avaliação). Durante o ano, não têm que fazer testes. No final do ano, vão a exame final obrigatório, e a oral de passagem obrigatória, mesmo que a média do exame final seja superior ou igual a doze. Se tiverem nota inferior a sete no exame final, chumbam automaticamente à cadeira. Depois das orais de passagem, se passarem à cadeira, podem também realizar orais de melhoria.
Há duas fases para a realização de exames e orais. Se os alunos fizerem todas as disciplinas em que estão inscritos na primeira fase – em Junho – têm uma bonificação de 0,7 valores na média geral. Se fizerem tudo na segunda fase – em Setembro – têm uma bonificação de 0,4 valores. Os alunos podem repartir as disciplinas que querem fazer entre as duas fases, mas, se o fizerem, não têm direito a qualquer bonificação final.
T.G. – O sistema de avaliação da minha faculdade pode ser de dois modos – avaliação contínua – em que conta o nosso desempenho nas aulas, a nossa comparência (uma vez que podemos faltar sempre que quisermos), os nossos trabalhos, etc., e fazemos uma frequência no final do semestre, e – exame – em que não fazemos nada o semestre inteiro e no fim do semestre e em vez da frequência, fazemos um exame.

Como são os horários?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os horários na minha faculdade são estáticos e nunca mudam. No primeiro, quarto e quinto anos, as aulas são das 9 da manhã à uma tarde. Se estiver inscrito a método A, porque em método B esse horário é reduzido para metade. No segundo e terceiro anos, as aulas são das duas da tarde às seis da tarde.
T.G. – Os horários variam muito, pois há cadeiras que são por turnos, e tanto podem ser compactos como muito dispersos.
Podem ser encontrados no site na faculdade – http://www.eshte.pt/.


Comentários dos entrevistados


"Acho que existem coisas boas e coisas más no ensino universitário, mas cabe a cada um escolher o seu próprio caminho."

André Gonçalves, 21 anos.

"Eu ando na tuna da faculdade e é muito giro, pois esta lá condensado todo o espírito dos estudantes, das festas e da faculdade."

Telma Guerreiro, 19 anos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Boa qualidade e pertinência nas perguntas colocadas.
Interessante para divulgação em meio escolar.

Anónimo disse...

Na minha opinião esta entrevista é muito oportuna e é importante para dar voz aos alunos que gostam ou não dos estabelecimentos de ensino que frequentam.

Oportuna a mim que me ajudou bastante e a muitos outros que queiram saber como é a vida universitária de várias perspectivas.

Quanto ao blog, é bom indentificarmo-nos com um blog de internet e sem dúvida identifiquei-me com este.
Levaram-me à loucura com tanta e tão boa cultura.

Anónimo disse...

São conversas assim, entre os jovens, que ajudam a crescer e a tomar opções com responsabilidade.
Parabéns às autoras!