segunda-feira, 19 de novembro de 2007

ESCRITAS EGÍPCIAS

Na antiga sociedade egípcia a escrita desempenhava um importante papel. Mas apesar disto, este ofício, considerado sagrado, só era utilizado pelos Escribas e claro, pela Nobreza e o Faraó.
Segundo a mitologia egípcia, a escrita teria sido inventada por Thot, deus da sabedoria, linguagem e magia, que é normalmente representado pela Íbis e pelo seu animal sagrado, o Babuíno. Esta atribuição está representada em muitos documentos, que mostram, por exemplo, Thot a escrever.
Mas, quem na verdade, fez com que este ofício se estendesse por largas décadas e lugares, foram os Escribas. O seu trabalho era venerado e louvado e ocupavam assim, altos lugares na sociedade egípcia. A partir das suas gravuras e pinturas de inúmeros hieróglifos, a História do Antigo Egipto pôde ser decifrada e contada.

AS TRÊS ESCRITAS:


A palavra Hieróglifos provém do grego e significa “inscrições/escritas sagradas”.
A escrita hieroglífica começou a desenvolver-se durante a 1ª Dinastia Egípcia, mais ou menos entre 3200 a.C. e 2778 a.C. Existiam muitos signos, mas poucos, cerca de 80 eram utilizados na escrita habitual. Inicialmente, cada signo representava um objecto, mas ao longo do tempo, os signos foram adquirindo um valor fonético. Podiam ser lidos horizontalmente ou verticalmente, e da direita para a esquerda ou ao contrário, quem decidia eram os signos, isto é, a leitura era feita a partir da imagem figurativa, homens ou animais, que tinham a cabeça sempre virada para o início da linha.


1. A Decifração:
Deve-se a Jean-François Champollion (1790-1832) que em 1821 começou a decifrar umas inscrições numa estela de basalto negro: Chama-se Pedra de Roseta e foi encontrada em 1799 por soldados de Bonaparte, numa região perto de Alexandria,chamada Rachid. FIG.1 - Pedra de Roseta Nesta pedra podem ser reconhecidos três caracteres diferentes: em primeiro, identificam-se 14 linhas em escrita hieroglífica, depois 22 linhas numa outra escrita egípcia, o demótico e finalmente, na última parte da pedra, podem ler-se 54 linhas em grego. Fig. 1 Pedra de Roseta
Champollion começou por reconhecer o nome de Ptolomeu em grego e demótico e percebeu que as três inscrições diziam a mesma coisa, e a partir deste passo, foi estabelecendo pontos de ligação entre os três idiomas. A Pedra de Roseta é assim a base dos estudos que levaram Champollion e outros estudiosos à decifração dos hieróglifos.
No seu livro « Précis du système hiéroglyphique des anciens Égyptiens » (1824) distingue, então mais duas espécies de escrita egípcia, além da hieroglífica : a hierática e a demótica ou epistolográfica.

A escrita hierática é posterior à hieroglífica, mas está ainda muito ligada a ela, é quase como se fosse a sua evolução. O hierático aparece quando se começam a utilizar as canas para escrever em superfícies lisas, que faziam com que vários detalhes dos signos desaparecessem. Assim muitos signos depressa se tornaram cursivos e por vezes, até havia casos em que um signo se juntava a outro. Formando-se assim, vários tipos de hierático. Esta escrita foi utilizada desde finais do Antigo Império e estende-se até finais no Novo Império. Nesta altura a escrita hierática já era usada em vários géneros textos: literários, administrativos e religiosos.

A escrita demótica é então, o desenvolvimento da escrita hierática, aparecendo por volta do século VII a.C. A princípio pensou-se que serviria para documentos e matérias mais administrativas, mas depressa se tornou uma escrita de uso corrente, podendo vários textos de carácter literário e religioso ser encontrados nesta língua.
Figura 2 - Exemplo da evolução de alguns hieróglifos ao longo dos séculosFonte: adaptação de Encyclopaedia Britannica, vol. 29 (1993)

Fig.2 Exemplo da evolução de alguns hieróglifos ao longo dos séculosFonte: adaptação de Encyclopaedia Britannica, vol. 29 (1993)

SUPORTES
Objectos em barro cozido;
Pinturas nas paredes dos templos e túmulos;
Pedra;
Madeira (tabuinhas);
Papiro.


A escrita egípcia é indispensável para o conhecimento do mundo do antigo Egipto. Cada signo, cada língua e escrita têm em si conceitos, sons e significados, que foram importantíssimos para o desenrolar de uma sociedade que servia de base para aquilo que somos hoje.
Teresa Sousa
História da Tradução para Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa

INTERPOL EM LISBOA

For the second time in Lisbon, Interpol gave a show to full-house and the audience had no complaints!



Known for their frivolous and serious behaviour, this New York band composed of Paul Banks and his deep cadaverous voice; the non-stop freaky dancer guitarist David Kessler; eccentric Carlos D on the bass and Sam Fogatino on the drums played in Coliseu dos Recreios on November 7th for a completely mad crowd.
When the first notes of “Pioneer to the Falls” resounded screams and euphoria made way to what would be a fantastic music night: the show was on. Several songs were played and gave way to others, such as the acclaimed “Slow Hands”, the new single “Heirich Maneuver” and “Evil” in unison grabbed a smile out of Paul’s cold face and some “Obrigados” too which made everyone who was there went crazy.
The environment was full of a million strange hot-cold feelings caused of course by their performance but also by a mixture of colourful lights. The red, white, purple, blue and gold reflexions behind the songs gave to each one them different kinds of emotions and feelings that were immediately absorbed by the audience. The whole crowd was caught up by those surrounding creepy moments and when Interpol announced their first departure the room started screaming anxiously for their return. Soon “Take you on a Cruise” and other two songs gave shape to a great encore. With happiness Interpol said goodbye and thanked all the fans, some of who refused to leave the room without a souvenir!
All that is left now for the fans are memories of a great night and maybe waiting for a third visit to our country. The quartet had already played in Portugal in the festival Superbock Superrock, and is now promoting the third album Our Love To Admire, which has as very successful precedents Turn Out The Bright Lights and Antics.
Often compared to Joy Division because the voices of both vocalists (Paul Banks and Ian Curtis) are said to be similar, Interpol with their very own indie style will keep spreading music and manners that certainly will not disappoint.

by Teresa Sousa

English Class - Faculdade Ciencias Sociais e Humanas de Lisboa

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Tradução como Opção

A vida de um profissional

Será a tradução um bom caminho a seguir? Ou apenas um hobby?
Actualmente são poucas as pessoas que trabalham nesta profissão a tempo inteiro. A maior parte das traduções de hoje são feitas por amadores que não são formados, especificamente, nesta área. E que o fazem, apenas, para ganhar algum dinheiro extra.
Mas a realidade e a sua essência são bem diferentes…





Geralmente, os tradutores trabalham para editoras, centros de documentação, gabinetes de tradução, agências de viagens e turismo, no comércio internacional e em organismos estatais. Normalmente, a actividade destes profissionais é exercida de uma forma individual e independente. Existem, no entanto, tradutores que optam por trabalhar em conjunto e montam empresas ou gabinetes, com o intuito de prestar serviços às entidades que necessitam, ocasionalmente, de trabalhos de tradução.
As facilidades, que até agora não são muitas, tornam-se ainda mais escassas quando se fala em mercado de trabalho internacional. Os tradutores portugueses que têm hipóteses no exterior exercem, normalmente, a sua profissão em organizações internacionais multilingues, que utilizam o nosso idioma como língua e instrumento de trabalho.
Em Portugal não existe um regulamento definido no campo da tradução. E infelizmente, quando é necessário um serviço deste tipo, a opção está, normalmente, virada para pessoas sem a qualificação apropriada. E mesmo aqueles que procuram ou exigem um trabalho profissional têm dificuldades em encontrá-lo, pois neste momento existe mais mão-de-obra não qualificada do que qualificada.

Uma das características desta profissão é a flexibilidade de horários. Os tradutores organizam o seu tempo consoante o número e tipo de trabalhos, isto é, se lhes for exigido uma tradução mais técnica e o prazo for apertado, terão, certamente, que passar mais tempo em serviço. Se pelo contrário, tiverem em mãos um trabalho menos exigente, a carga horária é, eventualmente, mais reduzida.
Outro ponto fulcral é o uso da Internet. Desde que apareceu, o mundo do trabalho mudou drasticamente. Antigamente o trabalho de pesquisa de um tradutor era muito mais exaustivo e demorado, faziam-no em bibliotecas utilizando como instrumentos principais livros, enciclopédias e dicionários. Hoje, com o uso das novas tecnologias, o tempo destes profissionais é poupado.

Um dos maiores problemas é a tradução de e para línguas pouco conhecidas, asiáticas, africanas que dificilmente se ensinam em estabelecimentos de ensino públicos e até mesmo privadas. A única solução para ter bons conhecimentos em línguas seria optar por viver algum tempo no país do idioma escolhido.
A vantagem deste tipo de traduções é a remuneração. Assim, por exemplo, um tradutor de inglês ou francês receberá menos que um de japonês. Para além disto, é também importante o tipo de tradução.

No meio da tradução existem inúmeras possibilidades e oportunidades, escolha aquela que melhor se ajustar à sua vida e, obviamente, aquela que mais gostar.

Dobragem vs Legendagem

São muitas vezes motivo de discussão a dobragem e a legendagem, porque sempre houve uma rivalidade entre ambas. Uns preferem a dobragem, talvez para não perderem “o fio à meada”, outros preferem a legendagem, pois acham que ouvir uma voz não correspondente à pessoa que está no ecrã não fica bem, torna o filme enfadonho e aborrecido.

Porquê a dobragem?

A dobragem apareceu pela primeira vez no cinema em 1927, com o filme “The Jazz Singer – O Cantor de Jazz”. Surge, só então, em 1929 “Luzes de Nova York”, a primeira longa-metragem a ser completamente dobrada, do início até ao fim.
A aparição do som deu origem a uma revolução no cinema da Europa e dos Estados Unidos. Pois, até então, as falas dos personagens não apareciam em simultâneo com as acções, mas sim em cartelas, depois de cada cena. No início os espectadores não reagiram bem e a legendagem não obteve bons resultados. Jacob Karol inventa então a solução, um sistema de gravação que permitia sincronizar áudio e imagem. Esta técnica mais tarde viria a ser chamada de dobragem.
O recurso à dobragem permitiu o melhoramento da qualidade sonora dos filmes, visto que os equipamentos de filmagens eram extremamente barulhentos, o que nem sempre permitia uma boa captação do som directo em estúdio.
As vantagens deste recurso não se ficam somente por questões técnicas. A dobragem tornou a produção de cinema mais económica, pois como não há a necessidade de se repetir cenas, não há gastos materiais.
A maior vantagem, talvez tenha sido o alargamento das oportunidades de trabalho neste campo, pois as companhias precisavam cada vez mais de actores que estivessem dispostos a dar voz às personagens dos filmes.
Como nada é perfeito, na dobragem há também alguns problemas. Esta técnica vai implicar a eliminação das vozes originais dos actores, bem como o acesso ao texto original, impedindo a detecção de más traduções. Para quem sente desconforto quando é confrontado com este tipo de situações existe sempre a alternativa da legendagem.


E porquê a legendagem?

Este recurso é muito mais natural e lógico: ingleses falam inglês, japoneses falam japonês, etc. para além disto e dos referidos anteriormente existem outros aspectos bastante importantes, por exemplo, num filme de formato musical é preferível, a meu ver, usar a legendagem. Primeiro porque se mantém a voz e os instrumentos musicais originais. Depois, porque cada idioma tem os seus próprios trocadilhos e jogos de palavras, frequentemente utilizados em canções. O que acontece nestes casos em que a dobragem é utilizada em vez da legendagem, é a perda ou alteração da ideia principal original.
O único problema é, realmente, o facto das legendas serem impressas opticamente na película, e que faz com que uma parte da imagem seja tapada e que por sua vez vais desviar a atenção dos espectadores, que ao olharem para as traduções, acabam por perder partes da acção.

À Conversa com...

...Teresa Amaro, tradutora profissional

Revista Cultural – É realmente formada em tradução? Ou tirou outro curso?
Teresa Amaro
– Sou licenciada em Filologia Germânica. Pouco tempo depois de acabar o curso, empreguei-me como secretária, função em que me mantive durante dez anos. Como trabalhava no importador de uma marca alemã, a tradução, embora em doses moderadas, fazia parte das minhas atribuições. O gosto por esta actividade foi crescendo e quando, finalmente, me cansei do secretariado e comecei a procurar outros caminhos, este era o que se me apresentava como mais viável. Obtive uma colocação num gabinete de tradução onde trabalhava oito intensas horas diárias que me deram uma prática e uma experiência consideráveis. Como sentia, porém, a necessidade de uma base teórica sólida, frequentei o curso de Tradução Avançada do Instituto Britânico e o Curso de Metodologia da Tradução do Instituto Nacional de Administração. Considero estes três componentes – a formação universitária, a experiência prática e os cursos específicos de tradução – fundamentais para a profissão.

R.C – Trabalha num gabinete ou independentemente (freelancer)?
T.A – Trabalhei durante um ano num gabinete mas há dezasseis anos que desenvolvo a minha actividade em regime de freelancer.

R.C – Que tipo de tradução faz? Qual é o tipo que prefere?
T.A – Faço essencialmente tradução técnica e tradução de filmes e séries televisivas. A minha preferência vai claramente para a segunda por ser mais criativa e mais interessante. Como os filmes e séries se destinam a DVD, tanto trabalho obras recentes (Pirates of the Caribbean, Die Another Day, as séries 24 e My Name is Earl) como westerns com mais de 40 anos. Seja qual for o caso, estes projectos são tão interessantes que normalmente os traduzo de um só fôlego.

R.C – Poderá dar-nos uma informação mais específica acerca da tradução literária e técnica?
T.A
– Embora tenha colaborado pontualmente em projectos de tradução literária, a minha área é a da tradução técnica, e é desta que posso falar com mais propriedade. Cada uma delas tem as suas especificidades. Ambas exigem conhecimentos muito sólidos da língua de partida e da língua de chegada. Mas, na tradução técnica, a língua serve apenas de veículo para transmissão de conteúdos. Um técnico quando lê um manual para montagem de uma caixa de velocidades precisa de saber que a porca tal entra no orifício tal, e essa informação tem que ser veiculada da forma mais directa, objectiva e clara possível. Na tradução literária, a língua assume um papel de protagonismo, tem de ser devidamente explorada do ponto de vista formal. E quem lida essencialmente com a tradução técnica pode experimentar alguma dificuldade na tradução literária. Os ritmos de trabalho também diferem. Na tradução técnica trabalha-se, de uma maneira geral, com prazos mais curtos, ao passo que os projectos de tradução literária são de mais longo prazo. Quanto à remuneração, a tradução técnica é geralmente mais bem paga que a literária. Eu, por exemplo, cobro entre 70 e 90 cêntimos/linha aos meus clientes directos. Quando trabalho para gabinetes, são estes que determinam os preços, que são geralmente mais baixos, pois ainda têm que levar a margem do gabinete antes de chegar ao cliente final.

R.C – Como é o seu dia-a-dia profissional?
T.A – O meu dia-a-dia é muito imprevisível. Como não há fluxos contínuos de trabalho, tenho de adaptar constantemente a minha rotina diária ao que aparece. Mas, em geral, as coisas começam com um telefonema ou e-mail do cliente a perguntar se me encontro disponível para fazer um determinado trabalho. Procuro saber qual o número de palavras, a língua de partida, a área e o prazo. Aceite o projecto, abro uma folha com o título do trabalho, o nome do ficheiro que lhe vou atribuir, a proveniência e o prazo. Esta folha destina-se a facilitar-me o controlo da situação. Por vezes, recebo três ou quatro trabalhos na mesma semana, e esta é uma forma de gerir os prazos, servindo-me também, no final, para fazer as contas do valor a cobrar ao cliente, do IVA, da retenção na fonte, etc. Depois, é começar a trabalhar. Cada projecto oferece um grau de dificuldade diferente, dependendo da área e da língua de partida. Se há textos que traduzo sem consultar o dicionário uma única vez, outros há em que me vejo obrigada a fazer múltiplas consultas. Felizmente, a Internet veio facilitar muito a vida aos tradutores. Embora não dispense o recurso aos dicionários em papel, consulto frequentemente o Eurodicautom (dicionário da União Europeia) e faço inúmeras pesquisas no Google. Depois de terminar a tradução, procedo a uma revisão cuidada e envio o trabalho por e-mail ao cliente.

R.C – Esta profissão exige uma especial concentração e disponibilidade. Isso afecta, de alguma maneira, a sua vida pessoal?
T.A
– A concentração e a disponibilidade são vitais. A tradução é um trabalho intelectual de responsabilidade que exige um ambiente calmo, silencioso e sem elementos perturbadores. Para além disso, pode exigir horários de trabalho muito prolongados. Por vezes, torna-se difícil fazer a família entender que estamos em casa mas é como se não estivéssemos. Também é difícil programar saídas, férias, etc., porque, de repente, chega trabalho e a tendência é sempre para aceitar tudo o que vem para não se correr o risco de perder o cliente e também para assegurar meios de subsistência suficientes para períodos de escassez de trabalho.

A Vida Universitária

À conversa com…

Entrevistámos três estudantes universitários com diferentes experiências e pontos de vista, acerca da sua vida académica.
André Gonçalves, 21 anos, e João Fernandes, 20 anos, frequentam o mesmo estabelecimento de ensino, Faculdade de Direito de Lisboa. Enquanto que, Telma Guerreiro, 19 anos, está no 1º ano da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

A inscrição foi difícil? A média exigida foi difícil de obter?

André Gonçalves – Não.
João Fernandes – A inscrição não foi difícil. Se me recordo, a média de entrada era de 12,8 valores. Na altura, estava indeciso entre frequentar a faculdade que agora frequento e o curso de Direito da Universidade Nova de Lisboa, sendo que a média da Nova era mais alta – 15,5 valores, se não estou em erro. De qualquer forma, também tinha média para entrar nas duas faculdades. Não senti grandes dificuldades em obter a minha média.
Telma Guerreiro – Não foi difícil entrar para o meu curso, mas não entrei para o que queria em primeiro lugar por 4 décimas.

Vives numa república com os teus colegas ou em casa?

A.G. – Presentemente vivo com o meu agregado familiar, mas em tempos estudei e residi em Coimbra. Habitava num alojamento de estudantes, perto da minha faculdade.
Dividia o quarto com um colega que não cheguei realmente a conhecer, porque raramente o via.
Levantava-me todos os dias às 10h da manhã e saía a correr, como sempre atrasado, para ir tomar o pequeno-almoço num café de esquina, regularmente frequentado por estudantes universitários. Entrava às 11h para as aulas e saía às 13h para duas horas de almoço. Recomeçava, depois, às 15h e saía às 20.30h. Daí seguia para o centro da cidade, por vezes acompanhado por colegas de turma, para ir jantar numa cantina universitária, de onde iríamos para o café da associação de estudantes, ponto de encontro de todos.
J.F. – Vivo em casa com os meus pais.
T.G. – Vivo em casa com os meus pais.

Como são as praxes na tua universidade?

A.G. – Grotescas. Não têm sentido, porque embora com o pretexto de integração social dos alunos, estas servem apenas para humilhá-los e expô-los ao ridículo e, porque nem todas as tradições são boas, acho que deveria acabar.
J.F. – As praxes na minha faculdade não são prolongadas ou ricas. Duram apenas um dia, o que muitas pessoas consideram não ser positivo.
T.G. – Na minha escola são cedidos três dias no início do ano só para praxes, sem aulas, para fomentar as ligações entre os caloiros e podermos conhecer os veteranos e as instalações. São muito giras, sem abusos de qualquer forma e qualquer pessoa se pode recusar a fazer algo, se assim o achar apropriado. Ao longo do ano, os caloiros podem ser praxados todas as quintas-feiras, que é o dia do estudante, até ao enterro do caloiro, em Maio.



Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito

Que diferenças encontras entre a faculdade e o ensino secundário? A tua adaptação foi difícil?

A.G. – O ensino secundário tem um baixo grau de exigência comparativamente ao ensino superior. Para muitos alunos a adaptação é difícil, e muitas vezes nem chega a ocorrer. Mas esse não foi o meu caso, devido à anterior experiência de Coimbra.
J.F. – As diferenças são, como suponho natural de prever, enormes. As diferenças mais óbvias prendem-se com a relação entre o docente e o aluno, e a necessidade de modificar o método de estudo que até então era comum no estudante, virando-o para uma vertente a que é dado à investigação científica um lugar de destaque. A carga de estudo mínima também aumenta exponencialmente. A minha adaptação foi mais difícil no segundo ano do que no primeiro, curiosamente, mas a regra é a de muitos sentirem dificuldades acrescidas no primeiro ano.
T.G. – As diferenças não são muitas, em termos de relação com os professores e com os colegas, pois as turmas são pequenas. A única diferença é que temos mais liberdade.

Em que é que se diferenciam os professores da universidade e do secundário?

A.G. – Os professores do ensino secundário não exigem tanto do aluno como os professores da universidade.
J.F. – Os professores universitários primam pela exigência e rigor académicos. Encorajam os alunos a realizarem um estudo para além dos manuais disponíveis (quando estes existem, é claro). Nas aulas teóricas, embora seja possível colocar dúvidas, não existe na minha faculdade essa tradição, pelo que o professor dá a aula simplesmente. Nas sub turmas, o ensino é muito virado para a realização de casos práticos – ou seja, para o estudo e aplicação da lei em casos concretos para se averiguar o Quid Júris (o que é do direito). Esta, penso, é uma das vantagens da minha faculdade em relação às outras com o mesmo curso – o ensino é muito mais prático, sendo que a esmagadora maioria dos testes consistem em casos práticos em que o aluno tem de aplicar a lei da melhor maneira possível de forma a resolver o problema.

O que pensas das festas? Costumas ir? Sem sim, quais?

A.G. – As festas universitárias servem para aqueles que têm o complexo da integração social, o conseguirem através de quatro ou cinco imperiais. As relações criadas nessas ditas festas são, muito frequentemente, de uma falsa aparência de amizade e servem não só para tentar atingir esse tal complexo, como também para desviar os estudantes do seu verdadeiro objectivo – estudar.
A diversão tem o seu lugar próprio, mas não deve adquirir um papel principal no ensino universitário. Constato isso todos os dias, ao ver supostos estudantes que vêm de localidades pequenas e que se deparam com uma cidade repleta de múltiplas ofertas, que os atraem e que os afastam dos estudos.
J.F. – As festas são indispensáveis para uma vida académica completa e minimamente saudável – principalmente no curso de Direito, onde o trabalho realizado no dia-a-dia é relativamente elevado.
Costumo ir às festas de Gala (fato e gravata), às festas da cerveja, do caloiro e também costumo ir ao arraial do Técnico.
T.G. – Sim. Vou às festas para os caloiros, jantares de turma e de associações, assim como a festas temáticas, como de Natal, etc.
Há, também, na minha faculdade uma festa especial – a festa do dia da escola, em Março, em que se faz um conjunto de actividades radicais que constituem um desafio, um percurso de escalada, tirolesa, rappel e canoagem, que dá prémios de viagens a quem ganha. Também se fazem mostras e feiras dos alunos de cozinha e simulação de empresas.

Achas que os custos são demasiado elevados?

A.G. – Não. Acho que as propinas ainda deveriam ser mais altas, porque as faculdades necessitam de ter um orçamento mais elevado para criar melhores condições de ensino para os alunos, condições essas que deveriam ser, muitas vezes, prosseguidas pela associação de estudantes, que em vez de aplicar as verbas disciplinares no melhoramento da qualidade de ensino, as aplica em festas descabidas como a da cerveja. No entanto, para aqueles que não têm condições para pagar os elevados custos necessários para uma boa educação, deveria ser-lhes proporcionado uma bolsa de estudo com base no rendimento do agregado familiar e no mérito.
J.F. – Considero que as propinas são elevadas. Penso que a melhor forma de promover um ensino académico de qualidade passa por um nivelamento das propinas por baixo, para permitir que mais pessoas possam concorrer ao ensino universitário, visto que não são raros os casos em que não há a possibilidade de frequentar um estabelecimento de ensino superior por falta de dinheiro, mesmo quando o aluno possui qualidade e média mais que suficiente para entrar.
T.G. – São elevados, mas fazem facilidades de pagamento. O sistema de bolsas de estudo facilita, mas é muito complicado reunir todas as condições para concorrer e o sistema é muito demorado.

Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa

Como é o sistema de avaliação?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os alunos, quando se inscrevem numa cadeira, podem escolher entre fazê-la em método A ou método B.
Em método A (também chamado de avaliação contínua) os alunos são inseridos numa turma, podem assistir às aulas teóricas, que são dadas pelo regente da cadeira, e são inscritos em sub turmas de aulas práticas, dadas pelos assistentes de cada cadeira. Os alunos inscritos em método A têm testes a cada cadeira regularmente. No final do ano, vão a exame final. Se, com a nota final que tiverem em avaliação contínua somada com a do exame, e dividida por dois, tiverem média igual ou superior a doze, ficam com a cadeira feita podem realizar orais de melhoria de nota, orais em que a nota nunca desce. Se a média final com a do exame dividida por dois der um resultado menor que doze, os alunos têm de ir a oral de passagem obrigatória. Se passarem, podem inscrever-se, na mesma, em oral de melhoria.
A método B os alunos apenas podem assistir às aulas teóricas, não estando inscritos nas sub turmas (podendo, no entanto, assistir a estas, embora não lhes seja dada qualquer avaliação). Durante o ano, não têm que fazer testes. No final do ano, vão a exame final obrigatório, e a oral de passagem obrigatória, mesmo que a média do exame final seja superior ou igual a doze. Se tiverem nota inferior a sete no exame final, chumbam automaticamente à cadeira. Depois das orais de passagem, se passarem à cadeira, podem também realizar orais de melhoria.
Há duas fases para a realização de exames e orais. Se os alunos fizerem todas as disciplinas em que estão inscritos na primeira fase – em Junho – têm uma bonificação de 0,7 valores na média geral. Se fizerem tudo na segunda fase – em Setembro – têm uma bonificação de 0,4 valores. Os alunos podem repartir as disciplinas que querem fazer entre as duas fases, mas, se o fizerem, não têm direito a qualquer bonificação final.
T.G. – O sistema de avaliação da minha faculdade pode ser de dois modos – avaliação contínua – em que conta o nosso desempenho nas aulas, a nossa comparência (uma vez que podemos faltar sempre que quisermos), os nossos trabalhos, etc., e fazemos uma frequência no final do semestre, e – exame – em que não fazemos nada o semestre inteiro e no fim do semestre e em vez da frequência, fazemos um exame.

Como são os horários?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os horários na minha faculdade são estáticos e nunca mudam. No primeiro, quarto e quinto anos, as aulas são das 9 da manhã à uma tarde. Se estiver inscrito a método A, porque em método B esse horário é reduzido para metade. No segundo e terceiro anos, as aulas são das duas da tarde às seis da tarde.
T.G. – Os horários variam muito, pois há cadeiras que são por turnos, e tanto podem ser compactos como muito dispersos.
Podem ser encontrados no site na faculdade – http://www.eshte.pt/.


Comentários dos entrevistados


"Acho que existem coisas boas e coisas más no ensino universitário, mas cabe a cada um escolher o seu próprio caminho."

André Gonçalves, 21 anos.

"Eu ando na tuna da faculdade e é muito giro, pois esta lá condensado todo o espírito dos estudantes, das festas e da faculdade."

Telma Guerreiro, 19 anos.

O Artesanato ainda existe!

Nos dias de hoje, o artesanato é uma arte ainda apreciada e realizada por muitos.
No passado dia 15 de Abril visitámos a Feira Laica que teve lugar no Mercado de Oeiras.
Este evento costuma realizar-se em várias regiões do país durante todo o ano. Tem como objectivo principal expor e vender artigos e criações de pessoas que dedicam a sua vida à arte.
Entre muitos criadores e os seus diversos estilos, conseguimos entrevistar a artista Isabel Newton.
Aqui vai…



1. Como é que o seu interesse por este tipo de arte começou?
O meu interesse por este tipo de "arte" ou artesanato urbano como prefiro chamar, começou já há muito tempo...não tenho uma data exacta, sempre me interessei por "pop art", "vintage", e "retro", toda essa inspiração vem do meu modo de vida, da musica que ouço, dos concertos, das viagens, dos artistas que gosto ( Mark Ryden, Ray Caesar, Gary Baseman,Craola,Planetpili,etc...) dos filmes que vejo, alguns deles de série B muito fantásticos...dos livros, das magazines dos anos 50/60/70... até nas drogarias (lojas em vias de extinção), lojas de plásticos, igrejas, etc, vou buscar a inspiração para os objectos que faço com uma linha mais "kitsch". A música, sobretudo o rock, também é uma forte fonte de inspiração. Acho que as casas dos portugueses estão a precisar de uma verdadeira mudança, de uma revolução. As pessoas de hoje interessam-se mais pela estética pessoal, um estilo "cool" mas vivem em ambientes "horríveis" decorados pelas suas mãezinhas e são quase todas de extremo mau gosto. Algumas pessoas só precisam de uma cama, uma televisão, um roupeiro de pinho (pior, será difícil imaginar, os pinheiros só no Natal e de plástico por favor para preservar a natureza!). Acho que não é preciso ter muito dinheiro para se viver "bem". Não abdico do conforto, o amor e uma cabana não serão sem dúvida a minha opção. As nossas casas têm que ter ambientes que transmitam conforto, solidez, tranquilidade, humor, etc, e todos estes ambientes necessitam de um sentido de estética e bom gosto. Não sou fã do estilo minimalista mas o exagero também poderá transmitir desordem e desleixo.
2. Dos vários tipos de artesanatos que produz, com que materiais mais gosta de trabalhar?
Bom em primeiro lugar gostaria de dizer que no meu ponto de vista não faço artesanato no sentido tradicional do termo (claro que isto daria uma bela discussão), no sentido das peças de cariz mais popular feitas com matérias primas nobres e algumas delas em série. Vendo por exemplo máscaras de "LuchaLibre" que são sem dúvida artesanato popular Mexicano que por serem raras por cá revelam algum exotismo atractivo quer para crianças quer para adultos. Faço peças únicas, limitadas, algumas com materiais que consigo arranjar por cá e outras com materiais que mando vir de fora. Tento sempre uma fusão de materiais e o resultado é por vezes brilhante. O material que mais gosto de usar é o plástico, nele existe uma panóplia de formas e cores que me atraem muito.

3. Vive desta ocupação?
Infelizmente não, ainda são poucas as pessoas que gostam deste tipo de acessórios e complementos para a casa. A maioria das pessoas ainda não percebeu que, às vezes, um pequeno acessório ou complemento único, marca a diferença e preferem comprar produtos em grandes superfícies ou nas lojas mais "barateiras" que, é claro, são feitos aos milhares.

4. Dá-se bem com as constantes deslocações a que este trabalho obriga?
Por bizarro que vos possa parecer foi a primeira vez que expus as minhas peças numa feira de artesanato. Foi uma experiência interessante pelo que vou ver se começo a estar em mais algumas, mas nem todas me agradam. Gostaria muito que as nossas feiras fossem como as existentes em Londres ou Amesterdão...

5. Que projectos tem em vista?
Os projectos que tenho são de fácil resolução. Fui convidada a fazer algumas exposições, outras estou eu mesma a organizar. Vou expor alguns dos meus materiais novos: telas decorativas feitas com materiais reciclados, colagens, etc. Ajudo e concretizo também algumas festas temáticas, é algo que faço já há alguns anos. Quero continuar sempre a fazer coisas novas, a ter muitas ideias e conseguir concretizá-las.

6. Tem alguma loja onde possa vender o seu artesanato?
Tenho no Porto duas lojas de amigos, uma de música - a LOST UNDERGROUND (rua do Almada nº 349) - e a outra de acessórios também com um certo espírito"underground", numa onda mais gótica, a LOTUS NEGRO. (C.C. Brasília loja128).


Obrigada pela vossa atenção e pelas vossas palavras, boa sorte também para vocês.
Beijo