quinta-feira, 3 de maio de 2007

Música do Mundo: Alemanha



É agradável e positivo ver que, apesar do monopólio da música comercial nos canais televisivos, ainda permanecem géneros desconhecidos ao público. Entre eles, destaca-se indubitavelmente o industrial. Não é fácil marcar a presença no mundo de tal género quando a Alemanha há muito que se afirmou o maior produtor de bandas industriais e os monstros Das Ich se apoderaram do mercado, mas os Laibach têm sido uma formação interessante e que dificilmente passa despercebida desde 1980. O colectivo juntou-se nesse preciso ano, pouco depois da morte de Tito, em Trbovje, na Eslovénia. Apesar das suas origens eslovenas e nomes não germânicos ao todo, a maior parte dos seus álbuns possuem nomes alemães e nenhum deles passa sem letras nessa língua. Este passo é fácil de entender - os verdadeiros apreciadores do industrial sabem perfeitamente donde vem o melhor do género. Desde o seu nascimento que a banda tem chocado pelo seu visual, o conteúdo das canções e os nomes dos álbuns. Embora afirmando-se inteiramente neutros, os Laibach suscitam sempre uma letal dose de polémica política - fatos que imitam exactamente os uniformes nazis(somente a suástica e a águia são retiradas), letras que com pouca seriedade tratam assuntos tão intocáveis como diferentes regimes totalitários. Até à segunda metade da década dos 90, ao grupo não era permitido entrar numa grande percentagem dos países, entre eles os do Leste e os Estados Unidos. Obviamente, cada grupo sabe perfeitamente o que faz, e ninguém ousará dizer que as mensagens das canções e a imagem dos músicos são pura coincidência. Feliz ou infelizmente, a provocação é uma das melhores maneiras de chamar atenção e manter as vendas. Mas, se no mainstream musical essa provocação consiste em usar cada vez menos roupa, no underground os truques são bem mais profundos e chocantes em conteúdo. No WAT(Wojskova Akademia Techniczna, Academia Técnica Militar), os Laibach não o conseguiram sem manter essa tradição. Nomes como Now You Will Pay, Anti-Semitism, Achtung! e The Great Divide, para além de provocações religiosas como Hell-Symmetry e Satanic Versus, contêm violência inter-racial, uma ameaça indirecta aos Estados Unidos e incentivos para auto-suficiência e liberdade de palavra. Com toda esta misturada política, é fácil deduzir, como no caso dos outrora polémicos Rammstein, que os membros da banda apoiam a ideologia nazi, mas aí vem uma contradição - o principal vocalista é judeu. Em termos rítmicos, já há algum tempo que os membros decidiram fazer o mesmo que os principais concorrentes Das Ich e juntar ao estilo definido pelos Einstürzende Neubauten notas de techno e batidas fortes. Ao todo, há um aceitável, mas pouco desejado exagero - Tanz mit Laibach parece um autêntico remix(não se pode, no entanto, culpá-los por trairem o estilo - o industrial, desde a mencionada acima banda, sofreu notáveis alterações e próprios Das Ich, três anos depois da saída do WAT, incluíram uma canção com semelhante ritmo intenso no seu álbum Cabaret). Anti-Semitism, por seu lado, traz-nos de volta às tradições dos Laibach - um ritmo pesado e lento, puramente industrial, com vozes que congelam o sangue e língua materna dos músicos. No entanto, é lamentável que seja a única faixa eslovena - a outra parte do álbum é dividida em duas partes quase iguais, uma delas inglesa e outra alemã. É necessário destacar que, depois de mais de vinte anos de existência no mercado industrial, os Laibach entendem a sua importância e grandeza como banda - vemos isso em composições WAT(from "Kapital" to "NATO" - nomes dos álbuns da banda) e Hell-Symmetry(welcome to the industry of seven deadly sins, walk into the universe of Laibach kunstmachines, it will take your soul, possess your mind, your hell is about to start). Porque, apesar de terem nascido quase ao mesmo tempo que os magnates Das Ich, os Laibach suscitam uma especial admiração graças à sua história, ao poderoso vocal, aos seus textos(o principal assunto dos Das Ich é ódio do mundo, pelo mundo e profanação religiosa) e mais proximidade das principais componentes do estilo industrial. É uma boa escolha para quem é indiferente ao género e possui algum conhecimento acerca das origens dele - caso contrário, a banda poucas emoções suscitará.


Top 5 pessoal:
1. Achtung!
2. Get back(original dos Beatles)
3. Deus ex machina
4. Das Spiel ist aus
5. Kapital

2 comentários:

Anónimo disse...

coisas mesmo à darya!!!

Anónimo disse...

E eu provoco: será que esta miúda não vai, de vez em quando, passear ao campo, ver as florinhas e ouvir os passarinhos?... ou vai?