quinta-feira, 3 de maio de 2007

Tradução como Opção

A vida de um profissional

Será a tradução um bom caminho a seguir? Ou apenas um hobby?
Actualmente são poucas as pessoas que trabalham nesta profissão a tempo inteiro. A maior parte das traduções de hoje são feitas por amadores que não são formados, especificamente, nesta área. E que o fazem, apenas, para ganhar algum dinheiro extra.
Mas a realidade e a sua essência são bem diferentes…





Geralmente, os tradutores trabalham para editoras, centros de documentação, gabinetes de tradução, agências de viagens e turismo, no comércio internacional e em organismos estatais. Normalmente, a actividade destes profissionais é exercida de uma forma individual e independente. Existem, no entanto, tradutores que optam por trabalhar em conjunto e montam empresas ou gabinetes, com o intuito de prestar serviços às entidades que necessitam, ocasionalmente, de trabalhos de tradução.
As facilidades, que até agora não são muitas, tornam-se ainda mais escassas quando se fala em mercado de trabalho internacional. Os tradutores portugueses que têm hipóteses no exterior exercem, normalmente, a sua profissão em organizações internacionais multilingues, que utilizam o nosso idioma como língua e instrumento de trabalho.
Em Portugal não existe um regulamento definido no campo da tradução. E infelizmente, quando é necessário um serviço deste tipo, a opção está, normalmente, virada para pessoas sem a qualificação apropriada. E mesmo aqueles que procuram ou exigem um trabalho profissional têm dificuldades em encontrá-lo, pois neste momento existe mais mão-de-obra não qualificada do que qualificada.

Uma das características desta profissão é a flexibilidade de horários. Os tradutores organizam o seu tempo consoante o número e tipo de trabalhos, isto é, se lhes for exigido uma tradução mais técnica e o prazo for apertado, terão, certamente, que passar mais tempo em serviço. Se pelo contrário, tiverem em mãos um trabalho menos exigente, a carga horária é, eventualmente, mais reduzida.
Outro ponto fulcral é o uso da Internet. Desde que apareceu, o mundo do trabalho mudou drasticamente. Antigamente o trabalho de pesquisa de um tradutor era muito mais exaustivo e demorado, faziam-no em bibliotecas utilizando como instrumentos principais livros, enciclopédias e dicionários. Hoje, com o uso das novas tecnologias, o tempo destes profissionais é poupado.

Um dos maiores problemas é a tradução de e para línguas pouco conhecidas, asiáticas, africanas que dificilmente se ensinam em estabelecimentos de ensino públicos e até mesmo privadas. A única solução para ter bons conhecimentos em línguas seria optar por viver algum tempo no país do idioma escolhido.
A vantagem deste tipo de traduções é a remuneração. Assim, por exemplo, um tradutor de inglês ou francês receberá menos que um de japonês. Para além disto, é também importante o tipo de tradução.

No meio da tradução existem inúmeras possibilidades e oportunidades, escolha aquela que melhor se ajustar à sua vida e, obviamente, aquela que mais gostar.

Dobragem vs Legendagem

São muitas vezes motivo de discussão a dobragem e a legendagem, porque sempre houve uma rivalidade entre ambas. Uns preferem a dobragem, talvez para não perderem “o fio à meada”, outros preferem a legendagem, pois acham que ouvir uma voz não correspondente à pessoa que está no ecrã não fica bem, torna o filme enfadonho e aborrecido.

Porquê a dobragem?

A dobragem apareceu pela primeira vez no cinema em 1927, com o filme “The Jazz Singer – O Cantor de Jazz”. Surge, só então, em 1929 “Luzes de Nova York”, a primeira longa-metragem a ser completamente dobrada, do início até ao fim.
A aparição do som deu origem a uma revolução no cinema da Europa e dos Estados Unidos. Pois, até então, as falas dos personagens não apareciam em simultâneo com as acções, mas sim em cartelas, depois de cada cena. No início os espectadores não reagiram bem e a legendagem não obteve bons resultados. Jacob Karol inventa então a solução, um sistema de gravação que permitia sincronizar áudio e imagem. Esta técnica mais tarde viria a ser chamada de dobragem.
O recurso à dobragem permitiu o melhoramento da qualidade sonora dos filmes, visto que os equipamentos de filmagens eram extremamente barulhentos, o que nem sempre permitia uma boa captação do som directo em estúdio.
As vantagens deste recurso não se ficam somente por questões técnicas. A dobragem tornou a produção de cinema mais económica, pois como não há a necessidade de se repetir cenas, não há gastos materiais.
A maior vantagem, talvez tenha sido o alargamento das oportunidades de trabalho neste campo, pois as companhias precisavam cada vez mais de actores que estivessem dispostos a dar voz às personagens dos filmes.
Como nada é perfeito, na dobragem há também alguns problemas. Esta técnica vai implicar a eliminação das vozes originais dos actores, bem como o acesso ao texto original, impedindo a detecção de más traduções. Para quem sente desconforto quando é confrontado com este tipo de situações existe sempre a alternativa da legendagem.


E porquê a legendagem?

Este recurso é muito mais natural e lógico: ingleses falam inglês, japoneses falam japonês, etc. para além disto e dos referidos anteriormente existem outros aspectos bastante importantes, por exemplo, num filme de formato musical é preferível, a meu ver, usar a legendagem. Primeiro porque se mantém a voz e os instrumentos musicais originais. Depois, porque cada idioma tem os seus próprios trocadilhos e jogos de palavras, frequentemente utilizados em canções. O que acontece nestes casos em que a dobragem é utilizada em vez da legendagem, é a perda ou alteração da ideia principal original.
O único problema é, realmente, o facto das legendas serem impressas opticamente na película, e que faz com que uma parte da imagem seja tapada e que por sua vez vais desviar a atenção dos espectadores, que ao olharem para as traduções, acabam por perder partes da acção.

À Conversa com...

...Teresa Amaro, tradutora profissional

Revista Cultural – É realmente formada em tradução? Ou tirou outro curso?
Teresa Amaro
– Sou licenciada em Filologia Germânica. Pouco tempo depois de acabar o curso, empreguei-me como secretária, função em que me mantive durante dez anos. Como trabalhava no importador de uma marca alemã, a tradução, embora em doses moderadas, fazia parte das minhas atribuições. O gosto por esta actividade foi crescendo e quando, finalmente, me cansei do secretariado e comecei a procurar outros caminhos, este era o que se me apresentava como mais viável. Obtive uma colocação num gabinete de tradução onde trabalhava oito intensas horas diárias que me deram uma prática e uma experiência consideráveis. Como sentia, porém, a necessidade de uma base teórica sólida, frequentei o curso de Tradução Avançada do Instituto Britânico e o Curso de Metodologia da Tradução do Instituto Nacional de Administração. Considero estes três componentes – a formação universitária, a experiência prática e os cursos específicos de tradução – fundamentais para a profissão.

R.C – Trabalha num gabinete ou independentemente (freelancer)?
T.A – Trabalhei durante um ano num gabinete mas há dezasseis anos que desenvolvo a minha actividade em regime de freelancer.

R.C – Que tipo de tradução faz? Qual é o tipo que prefere?
T.A – Faço essencialmente tradução técnica e tradução de filmes e séries televisivas. A minha preferência vai claramente para a segunda por ser mais criativa e mais interessante. Como os filmes e séries se destinam a DVD, tanto trabalho obras recentes (Pirates of the Caribbean, Die Another Day, as séries 24 e My Name is Earl) como westerns com mais de 40 anos. Seja qual for o caso, estes projectos são tão interessantes que normalmente os traduzo de um só fôlego.

R.C – Poderá dar-nos uma informação mais específica acerca da tradução literária e técnica?
T.A
– Embora tenha colaborado pontualmente em projectos de tradução literária, a minha área é a da tradução técnica, e é desta que posso falar com mais propriedade. Cada uma delas tem as suas especificidades. Ambas exigem conhecimentos muito sólidos da língua de partida e da língua de chegada. Mas, na tradução técnica, a língua serve apenas de veículo para transmissão de conteúdos. Um técnico quando lê um manual para montagem de uma caixa de velocidades precisa de saber que a porca tal entra no orifício tal, e essa informação tem que ser veiculada da forma mais directa, objectiva e clara possível. Na tradução literária, a língua assume um papel de protagonismo, tem de ser devidamente explorada do ponto de vista formal. E quem lida essencialmente com a tradução técnica pode experimentar alguma dificuldade na tradução literária. Os ritmos de trabalho também diferem. Na tradução técnica trabalha-se, de uma maneira geral, com prazos mais curtos, ao passo que os projectos de tradução literária são de mais longo prazo. Quanto à remuneração, a tradução técnica é geralmente mais bem paga que a literária. Eu, por exemplo, cobro entre 70 e 90 cêntimos/linha aos meus clientes directos. Quando trabalho para gabinetes, são estes que determinam os preços, que são geralmente mais baixos, pois ainda têm que levar a margem do gabinete antes de chegar ao cliente final.

R.C – Como é o seu dia-a-dia profissional?
T.A – O meu dia-a-dia é muito imprevisível. Como não há fluxos contínuos de trabalho, tenho de adaptar constantemente a minha rotina diária ao que aparece. Mas, em geral, as coisas começam com um telefonema ou e-mail do cliente a perguntar se me encontro disponível para fazer um determinado trabalho. Procuro saber qual o número de palavras, a língua de partida, a área e o prazo. Aceite o projecto, abro uma folha com o título do trabalho, o nome do ficheiro que lhe vou atribuir, a proveniência e o prazo. Esta folha destina-se a facilitar-me o controlo da situação. Por vezes, recebo três ou quatro trabalhos na mesma semana, e esta é uma forma de gerir os prazos, servindo-me também, no final, para fazer as contas do valor a cobrar ao cliente, do IVA, da retenção na fonte, etc. Depois, é começar a trabalhar. Cada projecto oferece um grau de dificuldade diferente, dependendo da área e da língua de partida. Se há textos que traduzo sem consultar o dicionário uma única vez, outros há em que me vejo obrigada a fazer múltiplas consultas. Felizmente, a Internet veio facilitar muito a vida aos tradutores. Embora não dispense o recurso aos dicionários em papel, consulto frequentemente o Eurodicautom (dicionário da União Europeia) e faço inúmeras pesquisas no Google. Depois de terminar a tradução, procedo a uma revisão cuidada e envio o trabalho por e-mail ao cliente.

R.C – Esta profissão exige uma especial concentração e disponibilidade. Isso afecta, de alguma maneira, a sua vida pessoal?
T.A
– A concentração e a disponibilidade são vitais. A tradução é um trabalho intelectual de responsabilidade que exige um ambiente calmo, silencioso e sem elementos perturbadores. Para além disso, pode exigir horários de trabalho muito prolongados. Por vezes, torna-se difícil fazer a família entender que estamos em casa mas é como se não estivéssemos. Também é difícil programar saídas, férias, etc., porque, de repente, chega trabalho e a tendência é sempre para aceitar tudo o que vem para não se correr o risco de perder o cliente e também para assegurar meios de subsistência suficientes para períodos de escassez de trabalho.

A Vida Universitária

À conversa com…

Entrevistámos três estudantes universitários com diferentes experiências e pontos de vista, acerca da sua vida académica.
André Gonçalves, 21 anos, e João Fernandes, 20 anos, frequentam o mesmo estabelecimento de ensino, Faculdade de Direito de Lisboa. Enquanto que, Telma Guerreiro, 19 anos, está no 1º ano da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

A inscrição foi difícil? A média exigida foi difícil de obter?

André Gonçalves – Não.
João Fernandes – A inscrição não foi difícil. Se me recordo, a média de entrada era de 12,8 valores. Na altura, estava indeciso entre frequentar a faculdade que agora frequento e o curso de Direito da Universidade Nova de Lisboa, sendo que a média da Nova era mais alta – 15,5 valores, se não estou em erro. De qualquer forma, também tinha média para entrar nas duas faculdades. Não senti grandes dificuldades em obter a minha média.
Telma Guerreiro – Não foi difícil entrar para o meu curso, mas não entrei para o que queria em primeiro lugar por 4 décimas.

Vives numa república com os teus colegas ou em casa?

A.G. – Presentemente vivo com o meu agregado familiar, mas em tempos estudei e residi em Coimbra. Habitava num alojamento de estudantes, perto da minha faculdade.
Dividia o quarto com um colega que não cheguei realmente a conhecer, porque raramente o via.
Levantava-me todos os dias às 10h da manhã e saía a correr, como sempre atrasado, para ir tomar o pequeno-almoço num café de esquina, regularmente frequentado por estudantes universitários. Entrava às 11h para as aulas e saía às 13h para duas horas de almoço. Recomeçava, depois, às 15h e saía às 20.30h. Daí seguia para o centro da cidade, por vezes acompanhado por colegas de turma, para ir jantar numa cantina universitária, de onde iríamos para o café da associação de estudantes, ponto de encontro de todos.
J.F. – Vivo em casa com os meus pais.
T.G. – Vivo em casa com os meus pais.

Como são as praxes na tua universidade?

A.G. – Grotescas. Não têm sentido, porque embora com o pretexto de integração social dos alunos, estas servem apenas para humilhá-los e expô-los ao ridículo e, porque nem todas as tradições são boas, acho que deveria acabar.
J.F. – As praxes na minha faculdade não são prolongadas ou ricas. Duram apenas um dia, o que muitas pessoas consideram não ser positivo.
T.G. – Na minha escola são cedidos três dias no início do ano só para praxes, sem aulas, para fomentar as ligações entre os caloiros e podermos conhecer os veteranos e as instalações. São muito giras, sem abusos de qualquer forma e qualquer pessoa se pode recusar a fazer algo, se assim o achar apropriado. Ao longo do ano, os caloiros podem ser praxados todas as quintas-feiras, que é o dia do estudante, até ao enterro do caloiro, em Maio.



Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito

Que diferenças encontras entre a faculdade e o ensino secundário? A tua adaptação foi difícil?

A.G. – O ensino secundário tem um baixo grau de exigência comparativamente ao ensino superior. Para muitos alunos a adaptação é difícil, e muitas vezes nem chega a ocorrer. Mas esse não foi o meu caso, devido à anterior experiência de Coimbra.
J.F. – As diferenças são, como suponho natural de prever, enormes. As diferenças mais óbvias prendem-se com a relação entre o docente e o aluno, e a necessidade de modificar o método de estudo que até então era comum no estudante, virando-o para uma vertente a que é dado à investigação científica um lugar de destaque. A carga de estudo mínima também aumenta exponencialmente. A minha adaptação foi mais difícil no segundo ano do que no primeiro, curiosamente, mas a regra é a de muitos sentirem dificuldades acrescidas no primeiro ano.
T.G. – As diferenças não são muitas, em termos de relação com os professores e com os colegas, pois as turmas são pequenas. A única diferença é que temos mais liberdade.

Em que é que se diferenciam os professores da universidade e do secundário?

A.G. – Os professores do ensino secundário não exigem tanto do aluno como os professores da universidade.
J.F. – Os professores universitários primam pela exigência e rigor académicos. Encorajam os alunos a realizarem um estudo para além dos manuais disponíveis (quando estes existem, é claro). Nas aulas teóricas, embora seja possível colocar dúvidas, não existe na minha faculdade essa tradição, pelo que o professor dá a aula simplesmente. Nas sub turmas, o ensino é muito virado para a realização de casos práticos – ou seja, para o estudo e aplicação da lei em casos concretos para se averiguar o Quid Júris (o que é do direito). Esta, penso, é uma das vantagens da minha faculdade em relação às outras com o mesmo curso – o ensino é muito mais prático, sendo que a esmagadora maioria dos testes consistem em casos práticos em que o aluno tem de aplicar a lei da melhor maneira possível de forma a resolver o problema.

O que pensas das festas? Costumas ir? Sem sim, quais?

A.G. – As festas universitárias servem para aqueles que têm o complexo da integração social, o conseguirem através de quatro ou cinco imperiais. As relações criadas nessas ditas festas são, muito frequentemente, de uma falsa aparência de amizade e servem não só para tentar atingir esse tal complexo, como também para desviar os estudantes do seu verdadeiro objectivo – estudar.
A diversão tem o seu lugar próprio, mas não deve adquirir um papel principal no ensino universitário. Constato isso todos os dias, ao ver supostos estudantes que vêm de localidades pequenas e que se deparam com uma cidade repleta de múltiplas ofertas, que os atraem e que os afastam dos estudos.
J.F. – As festas são indispensáveis para uma vida académica completa e minimamente saudável – principalmente no curso de Direito, onde o trabalho realizado no dia-a-dia é relativamente elevado.
Costumo ir às festas de Gala (fato e gravata), às festas da cerveja, do caloiro e também costumo ir ao arraial do Técnico.
T.G. – Sim. Vou às festas para os caloiros, jantares de turma e de associações, assim como a festas temáticas, como de Natal, etc.
Há, também, na minha faculdade uma festa especial – a festa do dia da escola, em Março, em que se faz um conjunto de actividades radicais que constituem um desafio, um percurso de escalada, tirolesa, rappel e canoagem, que dá prémios de viagens a quem ganha. Também se fazem mostras e feiras dos alunos de cozinha e simulação de empresas.

Achas que os custos são demasiado elevados?

A.G. – Não. Acho que as propinas ainda deveriam ser mais altas, porque as faculdades necessitam de ter um orçamento mais elevado para criar melhores condições de ensino para os alunos, condições essas que deveriam ser, muitas vezes, prosseguidas pela associação de estudantes, que em vez de aplicar as verbas disciplinares no melhoramento da qualidade de ensino, as aplica em festas descabidas como a da cerveja. No entanto, para aqueles que não têm condições para pagar os elevados custos necessários para uma boa educação, deveria ser-lhes proporcionado uma bolsa de estudo com base no rendimento do agregado familiar e no mérito.
J.F. – Considero que as propinas são elevadas. Penso que a melhor forma de promover um ensino académico de qualidade passa por um nivelamento das propinas por baixo, para permitir que mais pessoas possam concorrer ao ensino universitário, visto que não são raros os casos em que não há a possibilidade de frequentar um estabelecimento de ensino superior por falta de dinheiro, mesmo quando o aluno possui qualidade e média mais que suficiente para entrar.
T.G. – São elevados, mas fazem facilidades de pagamento. O sistema de bolsas de estudo facilita, mas é muito complicado reunir todas as condições para concorrer e o sistema é muito demorado.

Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa

Como é o sistema de avaliação?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os alunos, quando se inscrevem numa cadeira, podem escolher entre fazê-la em método A ou método B.
Em método A (também chamado de avaliação contínua) os alunos são inseridos numa turma, podem assistir às aulas teóricas, que são dadas pelo regente da cadeira, e são inscritos em sub turmas de aulas práticas, dadas pelos assistentes de cada cadeira. Os alunos inscritos em método A têm testes a cada cadeira regularmente. No final do ano, vão a exame final. Se, com a nota final que tiverem em avaliação contínua somada com a do exame, e dividida por dois, tiverem média igual ou superior a doze, ficam com a cadeira feita podem realizar orais de melhoria de nota, orais em que a nota nunca desce. Se a média final com a do exame dividida por dois der um resultado menor que doze, os alunos têm de ir a oral de passagem obrigatória. Se passarem, podem inscrever-se, na mesma, em oral de melhoria.
A método B os alunos apenas podem assistir às aulas teóricas, não estando inscritos nas sub turmas (podendo, no entanto, assistir a estas, embora não lhes seja dada qualquer avaliação). Durante o ano, não têm que fazer testes. No final do ano, vão a exame final obrigatório, e a oral de passagem obrigatória, mesmo que a média do exame final seja superior ou igual a doze. Se tiverem nota inferior a sete no exame final, chumbam automaticamente à cadeira. Depois das orais de passagem, se passarem à cadeira, podem também realizar orais de melhoria.
Há duas fases para a realização de exames e orais. Se os alunos fizerem todas as disciplinas em que estão inscritos na primeira fase – em Junho – têm uma bonificação de 0,7 valores na média geral. Se fizerem tudo na segunda fase – em Setembro – têm uma bonificação de 0,4 valores. Os alunos podem repartir as disciplinas que querem fazer entre as duas fases, mas, se o fizerem, não têm direito a qualquer bonificação final.
T.G. – O sistema de avaliação da minha faculdade pode ser de dois modos – avaliação contínua – em que conta o nosso desempenho nas aulas, a nossa comparência (uma vez que podemos faltar sempre que quisermos), os nossos trabalhos, etc., e fazemos uma frequência no final do semestre, e – exame – em que não fazemos nada o semestre inteiro e no fim do semestre e em vez da frequência, fazemos um exame.

Como são os horários?

J.F. – (o mesmo sistema que André Gonçalves) Os horários na minha faculdade são estáticos e nunca mudam. No primeiro, quarto e quinto anos, as aulas são das 9 da manhã à uma tarde. Se estiver inscrito a método A, porque em método B esse horário é reduzido para metade. No segundo e terceiro anos, as aulas são das duas da tarde às seis da tarde.
T.G. – Os horários variam muito, pois há cadeiras que são por turnos, e tanto podem ser compactos como muito dispersos.
Podem ser encontrados no site na faculdade – http://www.eshte.pt/.


Comentários dos entrevistados


"Acho que existem coisas boas e coisas más no ensino universitário, mas cabe a cada um escolher o seu próprio caminho."

André Gonçalves, 21 anos.

"Eu ando na tuna da faculdade e é muito giro, pois esta lá condensado todo o espírito dos estudantes, das festas e da faculdade."

Telma Guerreiro, 19 anos.

O Artesanato ainda existe!

Nos dias de hoje, o artesanato é uma arte ainda apreciada e realizada por muitos.
No passado dia 15 de Abril visitámos a Feira Laica que teve lugar no Mercado de Oeiras.
Este evento costuma realizar-se em várias regiões do país durante todo o ano. Tem como objectivo principal expor e vender artigos e criações de pessoas que dedicam a sua vida à arte.
Entre muitos criadores e os seus diversos estilos, conseguimos entrevistar a artista Isabel Newton.
Aqui vai…



1. Como é que o seu interesse por este tipo de arte começou?
O meu interesse por este tipo de "arte" ou artesanato urbano como prefiro chamar, começou já há muito tempo...não tenho uma data exacta, sempre me interessei por "pop art", "vintage", e "retro", toda essa inspiração vem do meu modo de vida, da musica que ouço, dos concertos, das viagens, dos artistas que gosto ( Mark Ryden, Ray Caesar, Gary Baseman,Craola,Planetpili,etc...) dos filmes que vejo, alguns deles de série B muito fantásticos...dos livros, das magazines dos anos 50/60/70... até nas drogarias (lojas em vias de extinção), lojas de plásticos, igrejas, etc, vou buscar a inspiração para os objectos que faço com uma linha mais "kitsch". A música, sobretudo o rock, também é uma forte fonte de inspiração. Acho que as casas dos portugueses estão a precisar de uma verdadeira mudança, de uma revolução. As pessoas de hoje interessam-se mais pela estética pessoal, um estilo "cool" mas vivem em ambientes "horríveis" decorados pelas suas mãezinhas e são quase todas de extremo mau gosto. Algumas pessoas só precisam de uma cama, uma televisão, um roupeiro de pinho (pior, será difícil imaginar, os pinheiros só no Natal e de plástico por favor para preservar a natureza!). Acho que não é preciso ter muito dinheiro para se viver "bem". Não abdico do conforto, o amor e uma cabana não serão sem dúvida a minha opção. As nossas casas têm que ter ambientes que transmitam conforto, solidez, tranquilidade, humor, etc, e todos estes ambientes necessitam de um sentido de estética e bom gosto. Não sou fã do estilo minimalista mas o exagero também poderá transmitir desordem e desleixo.
2. Dos vários tipos de artesanatos que produz, com que materiais mais gosta de trabalhar?
Bom em primeiro lugar gostaria de dizer que no meu ponto de vista não faço artesanato no sentido tradicional do termo (claro que isto daria uma bela discussão), no sentido das peças de cariz mais popular feitas com matérias primas nobres e algumas delas em série. Vendo por exemplo máscaras de "LuchaLibre" que são sem dúvida artesanato popular Mexicano que por serem raras por cá revelam algum exotismo atractivo quer para crianças quer para adultos. Faço peças únicas, limitadas, algumas com materiais que consigo arranjar por cá e outras com materiais que mando vir de fora. Tento sempre uma fusão de materiais e o resultado é por vezes brilhante. O material que mais gosto de usar é o plástico, nele existe uma panóplia de formas e cores que me atraem muito.

3. Vive desta ocupação?
Infelizmente não, ainda são poucas as pessoas que gostam deste tipo de acessórios e complementos para a casa. A maioria das pessoas ainda não percebeu que, às vezes, um pequeno acessório ou complemento único, marca a diferença e preferem comprar produtos em grandes superfícies ou nas lojas mais "barateiras" que, é claro, são feitos aos milhares.

4. Dá-se bem com as constantes deslocações a que este trabalho obriga?
Por bizarro que vos possa parecer foi a primeira vez que expus as minhas peças numa feira de artesanato. Foi uma experiência interessante pelo que vou ver se começo a estar em mais algumas, mas nem todas me agradam. Gostaria muito que as nossas feiras fossem como as existentes em Londres ou Amesterdão...

5. Que projectos tem em vista?
Os projectos que tenho são de fácil resolução. Fui convidada a fazer algumas exposições, outras estou eu mesma a organizar. Vou expor alguns dos meus materiais novos: telas decorativas feitas com materiais reciclados, colagens, etc. Ajudo e concretizo também algumas festas temáticas, é algo que faço já há alguns anos. Quero continuar sempre a fazer coisas novas, a ter muitas ideias e conseguir concretizá-las.

6. Tem alguma loja onde possa vender o seu artesanato?
Tenho no Porto duas lojas de amigos, uma de música - a LOST UNDERGROUND (rua do Almada nº 349) - e a outra de acessórios também com um certo espírito"underground", numa onda mais gótica, a LOTUS NEGRO. (C.C. Brasília loja128).


Obrigada pela vossa atenção e pelas vossas palavras, boa sorte também para vocês.
Beijo

Artistas do Secundário

Alunos de várias escolas secundárias responderam-nos a estas questões. Aprecie!


1. Porque é que escolheste esta área?
2. Qual a disciplina que mais aprecias?
3. Dentro desta área, qual o curso que um dia gostarias de frequentar?
4. Mesmo que não sigas uma profissão relacionada com este curso, achas que as artes vão continuar a fazer parte do teu dia-a-dia?




Sofia Silva, 17 anos – 12º ano

Escola Luís Freitas Branco.

1. Porque foi sempre o que eu gostei de fazer, desenhar, pintar, etc.
2. Historia de arte. Gosto de olhar para um monumento e saber para que estilo de arte olho, e porque é que foi feito daquela maneira.
3. Sim, fotografia, porque adoro captar o momento, de uma forma especial…uma foto é algo que dura uma vida, fica para sempre.
4. Sim...na decoração da minha casa, quando a tiver, por exemplo, posso aproveitar varias coisas e restaura-las...








Carolina Pizarro de Sousa, 15 anos – 10º ano
Escola Secundária Sebastião e Silva


1. Porque é a única em que os meus gostos e capacidades se enquadram.
2. É a de desenho! Porque sempre gostei de desenhar…
3. Estou indecisa entre arquitectura e pintura. Mais como ainda só frequento o 10º ano, não tenho certezas de nada. Além disso, não conheço todos os cursos que existem nesta área…
4. Acho que sim, aliás, tenho a certeza que sim! Eu adoro desenhar, sempre gostei. Gosto imenso de ir a exposições de arte, como as de arquitectura, fotografia, pintura ou escultura.
E depois há a música, que também é arte! Tenho a certeza que vai fazer sempre parte da minha vida, pois estou muito ligada a ela.

"Living Things", lápis pastel

"Eu e a minha mãe", lápis sanguínea



Catarina Croft, 15 anos – 10º ano
Escola Secundária Sebastião e Silva

1. Escolhi esta área porque gosto muito de desenhar e queria ter a disciplina de desenho. Identifico-me muito com artes…
2. A disciplina que mais aprecio é desenho.
3. Gostaria de frequentar o curso de arquitectura de interiores ou decoração, pois gosto muito destas duas profissões e penso que me iria integrar muito bem.
4. Penso que sim. Se eu fosse para outra profissão que não se relacionasse com artes iria sempre querer manter contacto com as artes, como continuar a desenhar, ir a exposições, etc.

Madalena Lino Dias, 19 anos – 12º ano
Escola Secundária Sebastião e Silva

1. Escolhi esta área, artes, porque desde pequena sou apaixonada por pintar, imaginar, criar... Viver um mundo mais livre.

2. Gosto principalmente de geometria descritiva e desenho.

3. Sim, o curso insere-se. Foi também uma das razoes que me levou a escolher artes. Quero ir para arquitectura. Adoro desenhos geométricos, reciclar espaços e sempre que ando a passear tenho uma curiosidade enorme de olhar para dentro das casas das pessoas e perceber como organizam o seu espaço.

4. Sempre, sempre... acho que já tenho uma mente artística! (risos)

Linda-a-Velha Street War Fest II

Foi neste fim-de-semana que, mais uma vez, decorreu o festival anual de Linda-a-Velha de bandas de garagem de hardcore. O cartaz inicial, no entanto, foi alterado ao decorrer dos concertos. Assim, uma banda não prevista teve que substituir outra: Cold as Blood.

Uma actuação marcante, sem dúvida, foi a dos Alien Squad, uma banda que existe desde 1989. Os músicos contagiaram o público com a sua energia e a música com bateria rápida e guitarradas sonoras. O vocalista, apesar de se aproximar da meia idade, interagiu com o público e consguiu passar a energia para além do palco.

No dia seguinte, a banda que teve mais impacto no público e encheu o espaço, entre as de garagem foi, sem dúvida, Barafunda Total. A única banda com um membro feminino, apresentava um hardcore bem elaborado, sonoro e com um ritmo acelerado. A reacção que o público teve exprimiu-se por crowdsurfing onde as raparigas eram levantadas no ar e fãs que subiam constantemente para o palco.Para o final da noite, estava guardada a banda cabeça de cartaz: Peste e Sida. Foi a actuação mais bem recebida pelo público. Temas como "Paulinha" fizeram os presentes cantarem com os músicos. Aproveitaram a ocasião para anunciarem a saída do novo álbum e o concerto que iriam dar por essa razão, brevemente, na Parede. Durante a actuação, João Pedro imitou um drogado, um bêbedo, um padre e, por fim, vendo o delírio do público, despiu a T-shirt.

As composições das bandas referidas, e outras que não o foram, mas que estiveram presentes no festival, podem ser ouvidas e descarregadas através destes links:
Cold as Blood
Alien Squad

Barafunda Total

Peste e Sida

DrBifes e os Psicopratas

Colisão Frontal

Mordaça
Trinta e um
Simbiose
Aykien
M.A.D.
Gazua
SK6

Música no Mundo: Portugal

Hands on Approach

Banda formada em 1996, Hands on Approach era constituída por um único membro, Rui David. Foi convidado por um locutor da Antena 3 para fazer uma actuação “Unplugged” em directo na rádio. O convite motivou a banda. Os outros elementos surgem antes da actuação. João Luís, baixista, Sérgio Mendes, guitarrista e Aníbal Rosado, baterista. O sucesso da banda foi tal, que fizeram a primeira parte de um concerto dos Xutos & Pontapés.
O single “My Wonder Moon” alcançou rapidamente o 4º lugar na tabela nacional.
O disco, com temas cantados em inglês, mas também em português, acabou por ser o melhor nos célebres estúdios Abbey Road, em Londres.
O segundo álbum dos Hands On Approach surgiu em Novembro do ano 2000, com o título "Moving Spirits". O primeiro single que surgiu no mercado foi "Endless Road", que provou uma vez mais o carácter único das composições da banda de Setúbal. A produção esteve, outra vez, entregue a Darren Allison, num álbum que contou ainda com dois temas gravados ao vivo, "In The End" e "Free".



Discografia

1999 – Blown
1999 – Blown Ao Vivo
2000 – Moving Spirits
Groovin’ On Monter’s Eye-balls



My Wonder Moon


Here comes the night

and for me it's

the best part of the day.

Even if I'm alone

I still sing a song

no mather what people say

I don't have another way

It brings me back the moon.



I look at the sun

it's already gone

the blue sky is turning black

I'm waiting for herwith my cigar box

it seems to be so differentit's all gone so quiet.

When she arrivesI will sing all the songs that I know

until now it has been

this way

Música no Mundo: Portuguesa

Xutos & Pontapés

A banda começou por se chamar "Delirium Tremens" e "Beijinhos e Parabéns". O primeiro ensaio a sério foi no dia 22 de Dezembro de 1978. O primeiro ensaio da banda e a estreia ao vivo ocorreu no dia 13 de Janeiro de 1979, já com o nome Xutos e Pontapés Rock’n’Roll Band. Estrearam-se na comemoração dos "25 anos do Rock and Roll" na sala dos Alunos de Apolo. Tiveram direito a seis minutos para tocar quatro músicas. Deu-se depois da entrada de
Zé Pedro (guitarra) e Zé Leonel (voz), que se juntaram, através de anúncios em jornais, a Kalú (bateria) e Tim (baixo).Nos anos seguintes, continuaram a tocar ao vivo, fazendo as primeiras partes de outras bandas. Em 1981, dá-se a entrada do guitarrista Francis e a saída do vocalista Zé Leonel, passando agora Tim a emprestar a sua voz ao grupo.

Em Fevereiro de 1987 é lançado o álbum "Circo de Feras" que obtém um estrondoso sucesso e que incluía temas como "Contentores", "Circo de Feras", "Na América" e "Não Sou o Único". Em Novembro desse ano é editado o "7º Single" com os temas "A Minha Casinha", "A Minha Aventura Homossexual com o General Custer" e "Eu Sou Bom". O single chega rapidamente a disco de platina. No ano seguinte, em Março, é editado o disco "88" produzido por Ramon Galarza e Paulo Junqueiro. Realizam 60 concertos em 4 meses, para mais de 240.000 espectadores. De 29 a 31 de Julho de 1988 realizam três concertos em Lisboa que foram registados e deram origem ao triplo-álbum "Xutos ao Vivo" (com 28 faixas contra 19 na versão em CD) editado em Novembro de 1988.

Com uma carreira com mais de 20 anos, os Xutos e Pontapés apresentam-se, na música portuguesa, como um verdadeiro fenómeno de resistência. Num meio onde o sucesso, muitas vezes, é fugaz, os Xutos souberam renovar-se ao longo dos anos, mantendo, no entanto, a mesma atitude combativa e entusiasta do primeiro dia, tendo alargado substancialmente o número de fãs. Cruzaram gerações, conquistando, com a sua música, pais e filhos.


Xutos e Pontapés ao vivo






Circo de Feras

A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
Esconde-se a espreita



Nunca dei um passo
Que fosse correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo



E enquanto esperava

No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto



De modo que a vida
É um circo de feras
E os entretantos
Sao as minhas esperas
Nunca dei um passo
Que fosse correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo



E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto




Algumas informações retiradas do site www.wikipedia.org

Música do Mundo: Alemanha



É agradável e positivo ver que, apesar do monopólio da música comercial nos canais televisivos, ainda permanecem géneros desconhecidos ao público. Entre eles, destaca-se indubitavelmente o industrial. Não é fácil marcar a presença no mundo de tal género quando a Alemanha há muito que se afirmou o maior produtor de bandas industriais e os monstros Das Ich se apoderaram do mercado, mas os Laibach têm sido uma formação interessante e que dificilmente passa despercebida desde 1980. O colectivo juntou-se nesse preciso ano, pouco depois da morte de Tito, em Trbovje, na Eslovénia. Apesar das suas origens eslovenas e nomes não germânicos ao todo, a maior parte dos seus álbuns possuem nomes alemães e nenhum deles passa sem letras nessa língua. Este passo é fácil de entender - os verdadeiros apreciadores do industrial sabem perfeitamente donde vem o melhor do género. Desde o seu nascimento que a banda tem chocado pelo seu visual, o conteúdo das canções e os nomes dos álbuns. Embora afirmando-se inteiramente neutros, os Laibach suscitam sempre uma letal dose de polémica política - fatos que imitam exactamente os uniformes nazis(somente a suástica e a águia são retiradas), letras que com pouca seriedade tratam assuntos tão intocáveis como diferentes regimes totalitários. Até à segunda metade da década dos 90, ao grupo não era permitido entrar numa grande percentagem dos países, entre eles os do Leste e os Estados Unidos. Obviamente, cada grupo sabe perfeitamente o que faz, e ninguém ousará dizer que as mensagens das canções e a imagem dos músicos são pura coincidência. Feliz ou infelizmente, a provocação é uma das melhores maneiras de chamar atenção e manter as vendas. Mas, se no mainstream musical essa provocação consiste em usar cada vez menos roupa, no underground os truques são bem mais profundos e chocantes em conteúdo. No WAT(Wojskova Akademia Techniczna, Academia Técnica Militar), os Laibach não o conseguiram sem manter essa tradição. Nomes como Now You Will Pay, Anti-Semitism, Achtung! e The Great Divide, para além de provocações religiosas como Hell-Symmetry e Satanic Versus, contêm violência inter-racial, uma ameaça indirecta aos Estados Unidos e incentivos para auto-suficiência e liberdade de palavra. Com toda esta misturada política, é fácil deduzir, como no caso dos outrora polémicos Rammstein, que os membros da banda apoiam a ideologia nazi, mas aí vem uma contradição - o principal vocalista é judeu. Em termos rítmicos, já há algum tempo que os membros decidiram fazer o mesmo que os principais concorrentes Das Ich e juntar ao estilo definido pelos Einstürzende Neubauten notas de techno e batidas fortes. Ao todo, há um aceitável, mas pouco desejado exagero - Tanz mit Laibach parece um autêntico remix(não se pode, no entanto, culpá-los por trairem o estilo - o industrial, desde a mencionada acima banda, sofreu notáveis alterações e próprios Das Ich, três anos depois da saída do WAT, incluíram uma canção com semelhante ritmo intenso no seu álbum Cabaret). Anti-Semitism, por seu lado, traz-nos de volta às tradições dos Laibach - um ritmo pesado e lento, puramente industrial, com vozes que congelam o sangue e língua materna dos músicos. No entanto, é lamentável que seja a única faixa eslovena - a outra parte do álbum é dividida em duas partes quase iguais, uma delas inglesa e outra alemã. É necessário destacar que, depois de mais de vinte anos de existência no mercado industrial, os Laibach entendem a sua importância e grandeza como banda - vemos isso em composições WAT(from "Kapital" to "NATO" - nomes dos álbuns da banda) e Hell-Symmetry(welcome to the industry of seven deadly sins, walk into the universe of Laibach kunstmachines, it will take your soul, possess your mind, your hell is about to start). Porque, apesar de terem nascido quase ao mesmo tempo que os magnates Das Ich, os Laibach suscitam uma especial admiração graças à sua história, ao poderoso vocal, aos seus textos(o principal assunto dos Das Ich é ódio do mundo, pelo mundo e profanação religiosa) e mais proximidade das principais componentes do estilo industrial. É uma boa escolha para quem é indiferente ao género e possui algum conhecimento acerca das origens dele - caso contrário, a banda poucas emoções suscitará.


Top 5 pessoal:
1. Achtung!
2. Get back(original dos Beatles)
3. Deus ex machina
4. Das Spiel ist aus
5. Kapital

Música no Mundo: Inglaterra

Qualquer que seja a opinião a respeito dos Rolling Stones, é impossível negar que se tornaram a banda mais antiga ainda em actividade e que, juntamente, com os grandes Beatles, foram a banda mais importante da chamada Invasão Britânica, termo que se aplica à entrada de artistas ingleses de rock n’ roll no mundo da música norte-americana, que ocorreu nos anos 60.


Como tudo começou...

É em 1962, quando Mick Jagger e Keith Richards, sentados num bar de “Rhythm and Blues” ficam fascinados ao assistirem à fantástica actuação daquele que viria a ser um dos mais importantes membros dos Rolling Stones, Brian Jones. Já estava! Já tinham o essencial: um vocalista e dois guitarristas e em seguida o resto da banda foi encontrada, exactamente da mesma maneira, em clubes e pubs. Agora sim, a banda está finalmente completa:
Mick Jagger como o vocalista assanhado e inquieto, Keith e Brian partilham as guitarras, Bill Wyman sempre atrás com o seu baixo eléctrico e o sossegado Charlie Watts na bateria.

Estes cinco rapazes todos, à excepção de Bill que era o mais velho, tinham 20 e poucos anos e partilhavam o mesmo gosto musical: Blues.(esquerda para a direita) Bill Wyman, Mick Jagger, Brian Jones, Charlie Watts e Keith Richards.





Em mais de 40 anos de carreira musical, hits como Satisfaction, Jumpin’ Jack Flash, Start Me Up e Angie fizeram dos Stones uma das mais apreciadas e conhecidas bandas a nível mundial.
E como em todos os casos, o sucesso excessivo traz consigo inúmeros problemas. E este não é excepção: desde envolvimentos com as drogas, traições e mortes, sem esquecer, claro, a óbvia falta de privacidade.





1969, o ano da morte de Brian Jones





Depois de diversas discussões com o problemático Jones, pelo facto de faltar aos ensaios devido à sua dependência da droga, a banda decide de uma vez por todas falar com ele e expulsá-lo.
Meses depois, é encontrado morto na piscina da sua propriedade. Até hoje ninguém sabe o que realmente se passou. Uns dizem que foi a sua mente perturbada que o levou ao suicídio, outros afirmam que caiu na piscina e como sofria de asma, não se conseguiu salvar e ainda há quem diga que foi assassinado. O mistério ainda não foi resolvido e foi feito em sua honra um filme intitulado de “Stoned” que conta o que se passou, mas na perspectiva do autor.
Jagger e o resto da banda dedicam a Brian parte do concerto que iram dar dias depois no Hyde Park, em Londres. Então, diante de um público de 300 mil pessoas, os Rolling Stones actuam num palco decorado com uma enorme fotografia do amigo guitarrista, enquanto Mick, vestido de branco, lê uma passagem do poema “Adonais” de Percy Besshy Shellev. De seguida, um espectáculo inesquecível: centenas de borboletas brancas são soltas! E assim, este concerto ficou na memória de todos, até dos que não estavam presentes.





Os Rolling Stones, agora, com Ron Wood que entrou em 1974, continuam a vender álbuns e a deixar estádios a abarrotar de gente disposta a duas ou mais horas de puro Rock n’ Roll e Blues!
A banda mais bem paga do mundo esteve o Verão passado aqui em Portugal, para dar um espectacular concerto no Estádio do Dragão, no Porto. Em excelentes condições, o público, constituído por pequenos e graúdos, pôde vibrar com algumas das mais memoráveis músicas e com um show cheio de surpresas: pirotecnia, fogo, um palco que se movia e que ia até à plateia, e claro a banda, cujos membros que apesar da idade, não param e em palco são sem dúvida os melhores entertainers do planeta!











Algumas músicas e curiosidades…

“Sympathy For The Devil”

Please allow me to introduce myself

I'm a man of wealth and taste

I've been around for a long, long years

Stole many a man's soul and faith


And I was 'round when Jesus Christ

Had his moment of doubt and pain

Made damn sure that Pilate

Washed his hands and sealed his fate


Chorus:


Pleased to meet you

Hope you guess my name

But what's puzzling you

Is the nature of my game


I stuck around St. Petersburg

When I saw it was a time for a change

Killed the czar and his ministers

Anastasia screamed in vain


I rode a tank

Held a general's rank

When the blitzkrieg raged

And the bodies stank


Chorus


I watched with glee

While your kings and queens

Fought for ten decades

For the gods they made


I shouted out,

"Who killed the Kennedys?"

When after all

It was you and me


Let me please introduce myself

I'm a man of wealth and taste

And I laid traps for troubadours

Who get killed before they reached Bombay


Chorus (2x)


Just as every cop is a criminal

And all the sinners saints

As heads is tails

Just call me Lucifer

'Cause I'm in need of some restraint (who who, who who)


So if you meet me

Have some courtesy

Have some sympathy, and some taste (woo woo)

Use all your well-learned politesse

Or I'll lay your soul to waste, um yeah (woo woo, woo woo)


Tell me baby, tell me what’s my name…
Etc.


Tradução:
“Simpatia pelo Diabo”

Por favor, permita que me apresente

Sou um homem rico e de bom gosto

Andei por cá muitos anos

Roubei a alma e a fé de muitos homens.


Estava lá quando Jesus Cristo

Teve seu momento de dúvida e dor.

Certifiquei-me que Pilatos

Lavasse as suas mãos e selasse o seu destino.

Refrão:


Prazer em conhecê-lo

Espero que adivinhe meu nome.

Mas o que está te está a intrigar

É a natureza de meu jogo.


Estava lá em São Petersburgo

Quando vi que era altura de uma mudança.

Matei o Czar e seus ministros

Anastasia gritou em vão.


Montei num tanque

Mantive a posição de General

Quando a guerra relâmpago eclodiu

E os corpos fediam.


Refrão


Assisti com alegria

Enquanto os vossos Reis e Rainhas

Lutaram por dez décadas

Pelos Deuses que criaram.


Gritei bem alto:

"Quem matou os Kennedys?"

Quando, no final das contas,

Foste tu e eu


Por favor, deixe-me apresentar

Sou um homem rico e de bom gosto.

Deixei armadilhas para os trovadores

Que acabaram mortos antes de alcançar Bombay.


Refrão (2x)


Assim como todo o policia é criminoso

E todos os pecadores são santos

E cabeças são caudas.

Chama-se, simplesmente, de Lúcifer

Porque estou a precisar de alguma restrição


Então, se me conheceres
Tem alguma cortesia
Tem alguma simpatia e bom gosto
Usa toda a tua boa educação
Porque senão fico com a tua alma

Diz-me querida, diz-me qual é o meu nome…



Interpretação:

A letra para esta canção foi escrita por Mick Jagger e Keith Richards, que dizem terem-se inspirado no romance de Mikhail Bulgakov “O Mestre e Margarita”.
“Sympathy for the Devil” é cantada pelo vocalista da banda que assume o papel de um Diabo sofisticado e suave.
Mas, esta canção, não é nada mais, nada menos, do que uma provocação ou um ataque aos media. Quando o seu segundo álbum “ Their Satanic Majesties Request” saiu, os Rolling Stones foram imediatamente atacados e considerados como adoradores do Diabo e coisas do género. Então, a banda decide lançar esta música que deixou toda a gente chocada, mas que na verdade, é a critica a sociedade corrupta em que vivemos e mais do que isso, é a afirmação não muito explicita que diabo é, de facto, a humanidade.
A letra é o relato breve de acontecimentos que ficaram para a história: a Guerra dos Cem Anos “I watched with glee while your Kings and Queens fought for ten decades for the Gods they made”, a Revolução Russa de 1917 “I stuck around St. Petersburg (…)Killed the czar and his ministers Anastasia screamed in vain”, a 2ª Grande Guerra e ainda a referência à morte de John e Robert Kennedy.
Agora, “Sympathy for the Devil” ocupa o 3º lugar na tabela das 50 melhores canções de Rock conservador da revista “National Review” e está em 32º lugar na tabela das 500 melhores canções de sempre da conceituada revista “Rolling Stone”.

Música no Mundo: Estados Unidos




"Punk-Rock não é só para o teu namorado!"

No início dos anos 90, surge nos EUA o movimento “Riot Grrrl” que leva à formação de várias bandas feministas. Este movimento foi criado, em primeiro lugar, devido às constantes agressões sofridas pelas raparigas que iam assistir a concertos de Punk-Hardcore e, em segundo lugar, porque as bandas Punk femininas não eram bem aceites. Os temas mais abordados por este género de bandas são: o feminismo, a homossexualidade, a liberdade de expressão e o sexismo. Apesar deste género musical não ser muito conhecido em Portugal, existem algumas bandas, festivais, sites e revistas a apoiarem-no. Kathleen Hanna, vocalista da banda “Bikini Kill” (primeira banda a ter êxito) foi quem deu voz a este movimento.


Bikini Kill

Banda formada em Washington em 1990 e principal influência para as bandas Punk femininas da época.
Durante os seus concertos, as mulheres ficavam à frente do palco e recebiam as letras das músicas da banda e revistas relacionadas com “Riot Grrrls”, enquanto que os homens ficavam atrás, o que por vezes não era bem aceite e geria confrontos.
A mensagem da banda era que as mulheres permanecessem unidas, obtendo o respeito dos outros e auto-respeito delas mesmas.
A banda teve uma duração de 7 anos, acabando em Abril de 1998.



Membros:

Kathleen Hanna
Tobi Vail
Kathi Walcox

Discografia:
Revolution Girl Style Now!
Bikini Kill
Pussy Whipped
Reject All American





Sleater-Kinney

Banda semelhante a “Bikini Kill”, também formada em Washington, em 1992.
As letras das músicas e o ritmo são mais suaves do que as de “Bikini Kill”.
Em 1994 gravam o primeiro álbum, tendo bastante sucesso.
O último álbum “The Woods”, lançado em 2005, pode ser o último da banda que esta parou por tempo indeterminado.



Membros:

Carrie Brownstein
Corin Tucker
Janet Weiss


Discografia:

Self Titled
Call The Doctor
Dig Me Out
The Hot Rock
All Hands On The Bad One
One Beat
The Woods



Le Tigre


Banda que dá continuação ao movimento “Riot Grrrl” dos tempos de hoje é formada por Kathleen Hanna, Johanna Fateman e J. D. Samson, nos finais dos anos 90.
O primeiro álbum, de 1999, intitulado como “Le Tigre”, provocou uma grande mudança na música alternativa. As músicas continuam a ser maioritariamente feministas, tal como na música “Mediocrity Rules” em que no final, se ouve um grito igual ao do Fred Flinston (Yabba-dabba-doo!), como a sugerir a questão “Será que a mentalidade da idade da pedra terminou?”
Le Tigre, tem uma sonoridade diferente das outras bandas “Riot Grrrl”, fazendo uma mistura de electrónica com Punk-Rock, o que a torna mais comercial.



Discografia:

Le Tigre!
Feminist Sweepstakes
This Island

Cinema Nacional

Na maior parte das vezes, o cinema português passa despercebido. É então que nos surge o nome de Manoel de Oliveira, o mais destacado cineasta nacional e o mais velho realizador activo no Mundo.
Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu a 12 de Dezembro de 1908, no Porto. Provém de uma família de industriais abastados, tendo sido o seu pai o primeiro fabricante de lâmpadas em Portugal.
O seu primeiro contacto com o cinema foi quando participou como actor no filme “A canção de Lisboa”, a primeira realização sonora portuguesa, é só em 1942 que se estreia como realizador com o filme “Aniki-Bobó”, que retratava a vida das crianças nas ruas da cidade do Porto. Mas, como não obteve sucesso esperado, Manoel de Oliveira teve que abandonar os projectos de filmagens em que estava envolvido para se dedicar aos negócios da família.
Só 14 anos depois, voltou ao cinema com “O pintor e a cidade” e a partir desta data foi sempre realizando e filmando.
Apesar do reconhecimento em festivais mundialmente conhecidos, o realizador insiste em dizer que só cria filmes pelo gozo de os fazer.


Deixe-se ficar e aprecie as palavras e as opiniões deste cineasta em relação a um dos seus mais mediáticos filmes "O Quinto Império", tema muito recorrente na cultura portuguesa.

ENTREVISTA A MANOEL DE OLIVEIRA

Por Anabela Mota Ribeiro para selecções do Reader’s Digest



Manoel de Oliveira diz...
«Já soube o que era cinema. Agora, tenho mais dúvidas.»
«Um artista nunca atinge o absoluto, nem sabe o que é. A única coisa que sabemos ao certo é: ninguém nasce senão para morrer.» Isto diz Manoel de Oliveira, numa entrevista que tem como mote o fascínio por D.Sebastião e o filme que lhe deu corpo: “ O Quinto Império - Ontem como Hoje”, que estreou recentemente. O sentido, a glória, a santidade e a mundanidade, a identidade. E a poesia, a filosofia, a vida.



Manoel de Oliveira termina o café antes de iniciarmos a entrevista. Há uma luz fria de Inverno que invade a sala, e a memória recente dos almoços de domingo. Como é sabido, este é um caso excepcional de longevidade: Oliveira tem 96 anos, faz filmes desde o mudo.


Selecções do Reader`s Digest –Partamos do seu último filme, «O Quinto Império». Há uma personagem que diz: «Viver, morrer, que importa a vida sem um empreendimento que a torne maior, pelo qual se morra?» Qual é a sua maior empresa, o que é que o segura à vida?
Manoel de Oliveira – Estive agora no México e vi escrito nas paredes de um museu um pensamento dos Maias, muito simples, muito correcto, mas ao mesmo tempo perfeito, profundo. Dizia: «Semeia para colheres, colhe para comeres, come para viveres.» É um fundamento da vida. A gente vive no sentido inverso: vive para comer, come para colher e colhe porque semeia. Aqui põe-se o problema do que transcende isso.



SRD – E que é?
MO – Sempre pensei que a identidade é o fundamental. Voltando aos índios da América, estive a filmar no Brasil. A tribo que veio para filmar estava muito inquieta, não queriam demorar com medo que lhes ocupassem as terras. Não podiam ser mais do que um certo número, não podiam ser superiores ao que a terra fornecia. Afogavam os filhos, logo que nasciam, quando se sobrepunham à quantidade necessária. Mas, se estivesse baptizado o menino, já não podiam [fazê-lo], já tinha identidade. Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida. Quer dizer, é preferível morrer a perverter a dignidade.


SRD – Houve um momento, há muitos anos, em que pensou que não iria filmar mais. Disse que era preferível pôr um fim, cometer uma morte em relação àquele projecto, o cinema, do que viver com o sofrimento da insatisfação, da impossibilidade.
MO – Sem esperança não é possível. A esperança é o bordão da vida. Há uma coisa do Padre Vieira, muito bonita, em que ele fala do Non: «Terrível palavra é o non, de qualquer lado por onde se pegue, é sempre Non» – isto aparece no meu filme «Non ou a vã glória de mandar», dito por esse grande actor, o Ruy de Carvalho. A última palavra do Vieira sobre Non é: «O Non tira a esperança, que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.» Sem esperança não se pode viver.


SRD – A esperança e o desejo são o que nos impele a fazer, a prosseguir. Mas não é supremamente difícil mantê-los vivos?
MO – O desejo não nos impele para existir. O desejo impele para a continuidade da espécie. O que nos impele à existência é o que diz o maia, «come para viveres», e isso é a fome. A fome é o que nos garante a subsistência. Se não tivéssemos fome, não comíamos, não comendo, não sobrevivíamos. Se não tivéssemos o desejo, não teríamos a relação sexual, e a relação sexual é que garante a continuidade da espécie. O desejo é uma coisa, a fome é outra. São os dois para a continuidade: um para a continuidade do indivíduo, o outro para a continuidade da espécie.


SRD – Devemos fazer uma leitura literal disso que diz ou extrapolar e fazer numa leitura metafórica? Se penso na sua longevidade, penso que o segredo é ter um fito, um sentido, ter uma coisa que o motiva e o faz sair de si para existir exteriormente, e fazer. Percebe o que estou a dizer?
MO – Percebo, mas acho que isso não há. Nada é verdadeiramente satisfatório. Mesmo a arte a que um artista é vocacionado, e sobre a qual e para a qual vive, está sempre aquém do seu desejo. Nunca atinge aquele nível, aquele andar que desejaria. Está sempre a tentar, a aproximar-se do limite das possibilidades. No fundo, do absoluto. Um absoluto que se não atinge, [que se] ignora mesmo. A única coisa que sabemos ao certo é: ninguém nasce senão para morrer. Morrer mais cedo ou morrer mais tarde. Tem esse privilégio: acabar com a vida antes do fim natural dela. Se estiver desesperado, acontece. Justamente quando perde a esperança. Quando perde a esperança, perdeu tudo, e então liquida-se.


SRD – Pensou alguma vez? Houve algum momento na sua vida tão desesperançado? Teve tantos reveses...
MO - Não. Suponho que ninguém deixa de pensar na morte. E quando se chega à minha idade, está-se mais consciente de que se aproxima o fim. Portanto, ele tem que se preparar para esse final. Há muita gente que conheci que se suicidou por isto ou por aquilo. E há o problema da eutanásia, quando o sofrimento é muito grande, a experiência é nula e as pessoas não podem sequer matar-se, têm que pedir que alguém as mate. O sofrimento é uma coisa terrível. Eu não tenho medo da morte, mas temo o sofrimento. A gente medita sobre a morte, prepara-se para ela, quer deixar tudo em condições, para poder morrer descansado. Hoje tenho essa preocupação.


SRD – Porque é que D. Sebastião é tão fascinante para si? Tive ao longo do filme a sensação de que podia transpôr para si e para a sua vida algumas daquelas equações.
MO – Acho que não. D. Sebastião é uma figura mítica. Já o Sampaio Bruno, o filósofo, tinha essa ideia do encoberto que esconde a salvação. O encoberto e o desejado, mais desejado depois de morto do que antes de nascer. Trata-se do problema da salvação, da nação ou da humanidade. A ideia de encoberto também está no mundo dos árabes. O décimo segundo irmão que sucede a Maomé nasceu e foi escondido, encoberto; só virá no Apocalipse, com Cristo, curiosamente, para combater o mal e criar a harmonia na humanidade. É a ideia de Quinto Império do Padre Vieira: um só rei, um só papa. Que é o que se pretende agora com a União Europeia. Por isso é que digo: «Quinto Império, ontem como hoje».


SRD – Essa era outra questão, o título do filme.
MO – Isto não está propriamente no livro do José Régio. Mas é histórico, e é histórico no Pessoa. É curioso que o décimo segundo, pelas minhas contas, coincide com D. Sebastião. Não sei se é o Sebastião que gera esta ideia muçulmana, se é o muçulmano que gera a ideia sebastiânica. Ora, o desejado era Cristo e ele veio com Cristo para combater o mal e criar a harmonia. É o que se pretende hoje. É o que Bush acaba de dizer: vai combater o mal e criar a liberdade e a democracia. É claro que naquele tempo não se falava em democracia.


SRD – Falava-se em harmonia.
MO – Era a harmonia. Embora a democracia já existisse na Grécia, anteriormente. É um desejo utópico, é um desejo profundo no homem: um bem-estar, e não esta inquietude permanente de guerras.










SRD – Quem faz este filme é o mais inquieto dos homens.

MO – Não sou, não sou. Sou um sobrevivente como qualquer outro. A arte é um ofício, uma paixão que as pessoas têm. O usurário tem uma paixão pelo dinheiro e junta o dinheiro para nada – é triste. O artista tende ao absoluto; pode também estar numa situação de revolta. Não é exactamente o meu caso, embora muitas vezes me revolte. É claro que o Portugal depois de Alcácer-Quibir é um Portugal devastado; toda a grande nobreza, os guerreiros, pediram aos judeus dinheiro emprestado para pagar o regresso dos que sobreviviam. Não pagaram tudo porque não conseguiram juntar o que lhes pediam, e houve um português que se ofereceu para ficar como refém até que pagassem o resto. Nunca mais veio. O que aconteceu com ele, não se sabe, ou o mataram, ou tiveram piedade... Mas, aí está, «vale mais morrer», há uma coisa superior à própria vida.

SRD – Que é a dignidade.

MO – Ele ficou satisfeito porque salvou milhares de pessoas, sacrificando-se a esse gesto.

SRD – Impressionou-me no D. Sebastião a noção de legado; ele tinha «o desejo de não degenerar os meus antepassados, parecer-me com os meus maiores». É um desejo de glória, é uma ambição.

MO – Veja que os reis eram determinados pelo destino dos deuses, ou de Deus. A batalha de Alcácer-Quibir é a última batalha pelas cruzadas, e ele diz: «Eu sou capitão de Deus». Há um fundo religioso. Como nos santos, não importa a morte, importa é a salvação da alma. Esse é o feito maior: salvar a alma. A alma que se tem por eterna, o corpo é precário. O sentido religioso não pode estar desligado desta ideia de alma e de eternidade, e do retorno ao paraíso, à tranquilidade.

SRD – Tudo isso parece tão pouco mundano...

MO – Pois, isso é que torna a atitude do Sebastião um pouco estranha, justamente fora do contexto mundano. No contexto mundano ele é imprudente, um mau rei. Sacrifica a sua própria alma. A ideia é a de que isso fica como herança para o povo português.

SRD – A ideia do sacrifício?

MO – A da salvação da alma.

SRD – Ou da tentativa da salvação da alma.

MO – Há um esforço nesse sentido, não há garantia disso, não pode haver. São coisas que nos transcendem, de que é difícil falar. Para quem crê é natural, é simples. Para quem não crê, é mais difícil. Porque é que vimos ao Mundo? Ninguém nasceu por vontade própria. Somos lançados ao Mundo, temos que gramar isto quer queiramos quer não. Estamos submetidos às forças enigmáticas da Natureza, ligados umbilicalmente com a Natureza, somos do mesmo processo. Dentro de nós há o mesmo que aconteceu no sudoeste da Ásia: quando estamos irados, é uma tempestade. A Natureza é extremamente caprichosa, dá a uns o que tira a outros. E a gente não sabe porquê. Eu mereço mais? Não mereço mais nem menos, sou como os outros, peco como os outros, gozo como os outros, vivo como os outros.

SRD – Porque é que dá a uns e não dá a outros, porque é que este processo é tão aleatório?

MO – Isso está para além da nossa inteligência e da nossa capacidade. O homem tem um tecto (que os gregos atingiram); para além disso, já não percebemos nada. Somos joguetes do destino. O Espinosa dizia: «Supomos que somos livres porque ignoramos as forças obscuras que nos manipulam.» E S. Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, a nossa crença é vã.» Não sabemos: nenhum dos nossos mortos disse qualquer coisa.

SRD – Fala-se muito de amor neste filme como sendo uma coisa terrena. «O amor conduz a excessos e erros». D. Sebastião despreza D. Pedro: «Nada a aprender com ele, porque se perdeu por amor». Há um desprezo pelas coisas terrenas?

MO – O desprezo do rei Sebastião é um desprezo dele. Eu pus até uns versos que foram escritos por mim, sobre a Vénus... A paixão é uma perturbação, o amor é real, é absoluto, é uma coisa estranha. A paixão dá sempre força a um lado, ou é da mulher ou é do homem. O desejo é fazer dos dois, um. O amor a Deus, por exemplo, há uma lenda (ou uma realidade, não sei) em que um santo se ajoelha e está a rezar, e de tal modo se embebe do amor a Deus que acaba terminando: «Meu Deus, come-me!» A vontade é comer o outro, fazer-se um, voltar ao andros... Depois há almas gémeas – que é a parte separada do que era um. São coisas complexas, a gente entra nesse terreno e não sabe trabalhá-lo porque nos ultrapassa. É o lado poético da vida.


SRD – Ao mesmo tempo, há lá coisa mais terrena do que a paixão e o amor?

MO – Pois, mas a santidade inverte essa posição. A santidade está ligada ao sentido verdadeiro de liberdade, é o desprendimento total das coisas terrenas. Agora, se está preso pelo dinheiro, por uma paixão, pelo desejo de uma mulher, por isto, por aquilo, anda sempre agarrado a esta porcaria que é o campo terreno.

SRD – As mulheres são profundamente diferentes dos homens?

MO – São profundamente diferentes, felizmente. Até o cérebro tem uma outra organização. A mulher é extraordinária... Gosto muito da estátua da Vénus de Milo, aí é que está o sentido. Não há nada dela que eu tire para o sexo. O sexo é um prazer, um vício, como fumar, tomar café, beber uma droga. A Vénus de Milo... a gente não sabe a posição das mãos, mas o seio é muito bonito, nada provocativo, nem a cara, que é muito serena, muito feminina; mas o ventre é o que sobressai mais. E é o ventre onde se gera a humanidade. A Agustina Bessa-Luís diz mesmo que Cristo, Deus, nasceu do ventre da mulher. Veja a importância que tem e que se não dá à mulher: a de criar humanidade. E essa estátua, por coincidência, é a mais conhecida de todas as do mundo ocidental.

SRD – Há pouco falava da complexidade, de não termos as coisas na mão. Mas quais são as coisas de todos os dias de que podemos falar?

MO – Falámos nisso, nos poetas. Para mim os poetas chegam mais longe do que os filósofos. As suas poesias contêm segredos que vão para além. A nossa inteligência não é capaz de os desvendar, a gente sente mas não desvenda.

SRD – Os seus filmes têm alguma coisa de cifrado?

MO – Têm muito de cifrado. Têm muito para decifrar, até por mim próprio. O homem é um bocado como o gato, fica preso às casas porque nelas se passaram histórias, e a casa é o guardião de todas essas histórias, problemas, alegrias, etc.

SRD – A sua casa é a sua memória?

MO – É. Fiz um filme que se chama «Memórias e confissões.»

SRD – Aquele que só pode ser visto depois da sua morte?

MO – Sim. Não tem nada de extraordinário, mas tenho um bocado de pudor de estar a falar de mim próprio. É uma recordação de certas coisas da vida e da casa que foi o meu barco durante quarenta anos. Ali vivi com a minha mulher, ali criei os meus filhos, ali ajudei a criar os meus netos. Esse filme está guardado na Itália, está guardado mais não sei onde.

SRD – É como se fosse um tesouro, uma conta na Suíça?

MO – O filme é muito simples. É a minha vida, eu ponho alguns pontos, dou uma ideia do que eram os meus pais.

SRD – Mas se não tem nada de extraordinário por que é que não deixa que se veja o filme?

MO – Acho que tem mais interesse quando não estiver vivo. Mas já mostrei a algumas pessoas.

SRD – Numa entrevista a João Bénard da Costa fala do cinema como arte e como fixação da memória. Decidiu fazer esse filme antes de passar a uma fase diferente, antes de mudar de habitáculo, para registar e guardar o momento anterior?

MO – Ainda há bocado a minha mulher disse que se não adaptou [a esta casa nova], tão vinculada estava à casa da Vilarinha. Casa essa, por acaso, arquitectonicamente de muito interesse, passa em revistas de arquitectura e sempre com o meu nome. Até porque o proprietário não deu o nome dele, tem medo que lhe aumentem os impostos. Eu fico contente, porque aquela era a minha casa.

SRD – Quando rememora o passado, há algum período mais recorrente?

MO – Sabe que a memória é muito caprichosa, fixa umas coisas e não fixa outras. Fixa uma coisa que aparentemente não vale nada e esquece uma coisa que é muito forte. O que retemos na memória é aquilo que o capricho dela reteve, não aquilo que a gente quis reter. Outras vezes há passagens de que a gente não gostaria de falar. Há sempre um segredo, cada um tem um segredo, qualquer coisa que não gosta de ver revelado. Já não pode emendar, de maneira que cala.

SRD – Aspiramos à espiritualidade, mas não prescindimos da perversidade terrestre. Uma vez disse-me que os seus realizadores preferidos são o Dreyer e o Buñuel.

MO – Tenho que o Buñuel era uma pessoa profundamente religiosa. Mas contra a Igreja. O sentimento religioso é uma coisa muito particular, de cada um. A Igreja é uma norma pela qual toda a gente se guia. Ele tem esse sentimento do Deus perverso, que faz o homem dentro de um sofrimento terrível – é isso que ele não suporta, esse mal-estar. O Buñuel dizia: «Enquanto pude, às seis horas da manhã...» fazia o sexo com a mulher dele. «E depois levanto-me, tomo o café, pego no jornal, e para ler tenho que pôr uma lente; depois cansa-me, desisto; a caminhar sou trôpego, ando mal. De maneira que é horrível suportar essa coisa toda. Por fim, aborreço-me até à hora do almoço.» É uma vida triste.

SRD – O que é que o mantém tão entusiasmado? Tem um ar cada vez mais bem disposto.

MO – Acha? Se estou bem, estou bem-disposto, se estou mal, estou mal-disposto, é um estado físico que não controlo.

SRD – Mudou muito?

MO – Mudei muitíssimo. Fui ganhando outra segurança, outra confiança. Eu era muito tímido, reservado, tinha medo daquilo que dizia, medo que aquilo não fosse certo. Mas sobre o que era cinema, sabia muito bem o que queria e o que não queria, muito mais do que agora! Agora tenho mais dúvidas. O Mundo mudou, as coisas mudaram e eu também mudei.


SRD – Até já se permite duvidar...

MO – Ah, pois. É claro que tenho a minhas convicções, mas tenho sempre medo que essas convicções pareçam demasiado particulares, quando eu queria ter uma visão genérica do que é o cinema.

SRD – O reconhecimento e os prémios foram fundamentais para essa confiança que ganhou?

MO – Não. Estou habituado a que recebam mal os meus filmes e isso não me altera, nem altera nada do que penso sobre o cinema. Eu reprovo o prémio da competição. Os óscares, por exemplo, até porque são dados a filmes de sucesso. Gosto mais dos prémios que são dados ao filme como coisa artística. Esse prémio de competição está bem no futebol, que um mete mais golos que o outro. Mas já dizia o Rembrandt quando apresentou o seu quadro «A Ronda da Noite» à sociedade – fizeram muita troça, ele veio desconsoladíssimo: «O militar conhece a sua glória na vitória, o comerciante reconhece a sua glória nos lucros do comércio, mas o pintor, o artista, onde é que ele a vai reconhecer?» Não há nada que determine exactamente. A arte é especial. Há uma só lei: o tempo. O tempo é o grande juiz, é o grande juiz de tudo.

SRD – A pergunta é, no fundo, o que é que fez de si um homem menos inibido e mais seguro de si?

MO – Estou mais convicto. Há uma coisa que gostei de ouvir do Fellini: tinha uma grande admiração pelas pessoas que falham e persistem. Persistem com a mesma vontade ou mais forte, com a ideia de alcançarem a finalidade última. Considero-me um pouco dentro dessa classe. Continuo a ser um aprendiz do cinema, continuo a aprender muito e até com os artistas novos. No cinema cada realizador põe uma nova folha numa frondosa árvore, mas o que sustenta a folha não são os ramos, não é o tronco, são as raízes. É por isso que estimo a história e a memória. É fundamental para a nossa vida, para os nossos juízos.

SRD – E para a identidade.

MO – E para a identidade.

O Cinema


A tão hoje conhecida palavra “Cinema” teve origem no grego”Kino” que significa movimento, e só é possível graças à (fabulosa) invenção dos irmãos Lumiére no século XIX, o cinematógrafo.
Tudo começou, quando a 28 de Dezembro de 1895, se deu a primeira exibição pública de cinema, na cave “Le Grand Café”, em Paris. A sessão consistia na apresentação de uma série de 10 filmes com a duração de menos de 1 minuto cada. Filmes como “A saída dos operários da fábrica Lumiére” e “A chegada do comboio à estação Ciotat” ficaram para sempre na história do cinema.









Como a magia é feita...

Visto que a maioria dos filmes de hoje são filmados fora de ordem cronológica, a primeira tarefa de um técnico de montagem é colocar ordenadamente os planos já feitos e para isso, precisa de compreender e saber todo o percurso do filme e aquilo que é pretendido pelo realizador.
Em seguida, o técnico e os assistentes de montagem e o director, trabalham no afinamento do produto audiovisual e nos ajustes finais.
Este trabalho exige muita paciência e concentração, pois é nesta fase que são encontrados erros de continuidade que devem ser resolvidos na hora da montagem.

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